É cada vez mais comum encontrar nas prateleiras de supermercados e empórios cervejas com características especiais, como as low carb e as gluten free, visando um público que tem restrições alimentares. As propagandas divulgam estes produtos relacionando estas cervejas a um estilo de vida mais saudável, e as pessoas na vida real também buscam essas alternativas de consumo, muitas delas de olho na dieta e na silhueta.
A cerveja é consumida há milhares de anos neste planeta. Aos poucos, a tecnologia para a produção nos leva a dar opções para pessoas celíacas, por exemplo. É o caso das cervejas livres de glúten, proteína encontrada no centeio, aveia e trigo. Mas, se a cerveja é feita exatamente com derivados destes cereais, como pode então ser fabricada sem a proteína? A resposta está na substituição dos grãos usados, que vão do sorgo até o milhete, que ajudam a conferir as características de uma cerveja “normal”, além do processo de filtragem.
Algumas das cervejas sem glúten já são, inclusive, premiadas na World Beer Cup. É o caso da canadense Glutenberg, ou Brasseurs Sans Gluten, que produz American Pale Ales e India Pale Ales especialmente para quem tem essa restrição alimentar (e para quem tem curiosidade de tomar essas cervejas especiais). A tendência é de expansão desse nicho. Por aqui no Brasil, são comercializadas de cervejas bem conhecidas, como a Stella Artois em versão sem glúten, a espanhola Estrela Damm, até versões ditas artesanais, como a Lake Side e Farrapos.
O grande apelo das cervejas sem álcool é a possibilidade de continuar o consumo da bebida, aproveitando seu sabor, mesmo em momentos em que o consumo de álcool não é permitido. Caso de quem precisa dirigir depois do happy hour, por questões de saúde, ou de quem simplesmente prefere manter-se abstêmio. E, pasme: a aceitação dessa cerveja no Brasil vem crescendo uma média de 5% ao ano, que acompanha também a maior oferta de rótulos de qualidade no mercado. Caso da Heineken, que apostou as fichas no 0% álcool, e da Hoegaarden – que lançou a primeira witbier zero álcool no país neste ano.
Então, chegamos às cervejas low carb. Há o público que, por conta de dietas (como a cetogênica, que limitam os carboidratos ingeridos) e da balança, opta por rótulos ditos com menos carboidratos do que os comuns. Algumas marcas se associam à eventos relacionados à atividades saudáveis para promover seus produtos. A Michelob Ultra, marca que chegou recentemente ao mercado nacional, afirma que tem 80% menos carboidratos do que as outras cervejas, além de 79 calorias (ao passo que . Será que esse tipo de cerveja cumpre o papel?
Este enredo pode ser mais uma armadilha do que solução para quem pensa na dieta. Segundo a nutricionista Karina Hass, as cervejas com baixo teor de carboidratos não impedem o corpo de ganhar peso. O que importa para a dieta, na verdade, é a porcentagem de álcool. “A grande questão das bebidas alcoólicas, como um todo, é a presença do álcool. Vai muito além de quantas calorias você vai ingerir em cada lata: o consumo de álcool altera os níveis de alguns hormônios como a insulina e testosterona”, diz. Por isso, é preciso consumir de modo consciente além da contagem de carboidratos.
Mas cerveja não traz nenhum benefício à saúde?
Bem, é quase consenso entre especialistas que a cerveja contém calorias vazias. No entanto, por ser feita de cereais, ela conta sim com alguns minerais e vitaminas em pequenas quantidades, como cálcio, potássio, tiamina, ferro e zinco, além de vitamina B e ácido fólico. Mas, é claro, essas quantidades não substituem de modo algum os alimentos frescos, como vegetais, frutas, cereais, etc.
Especialistas apontam que, com um consumo moderado, a cerveja pode até mesmo trazer benefícios pontuais, como o aumento da capacidade do corpo em remover o colesterol – melhorando as propriedades antioxidantes do colesterol bom (HDL) -, diminuindo o risco de doenças cardíacas, tal como o vinho. Estudos também mostram que a ingestão leve de álcool pode reduzir a resistência à insulina, controlando o açúcar no sangue, segundo a conceituada PubMed Central. É preciso frisar, porém, que todos os benefícios são relacionados ao consumo moderado, ao passo que o consumo excessivo pode levar a prejuízos enormes à saúde.
Alguns estudos falam sobre benefícios de ingerir cerveja sem álcool após as atividades físicas, pela propriedade isotônica na reposição de sais minerais e de carboidratos. Menção honrosa ao lúpulo, esse ingrediente que amamos, que tem antioxidantes que podem prevenir o envelhecimento. Já a bebida alcóolica faz o efeito reverso. “Na verdade acontece o contrário: a desidratação. Por esse motivo orientamos o consumo de água junto com a bebida para manter a hidratação” alerta a nutricionista.
* Letícia Cruz Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! Criadora do @cervejopedia no Instagram e da loja @cervejopedia.beershop, que fica em Santana, capital paulista.
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