Por Lalá Ruiz*
A pauta ESG, tão em voga atualmente no ambiente corporativo, já é uma realidade no mundo do vinho. Na busca por excelência, produtores de diferentes países têm dedicado tecnologia e gestão com foco, justamente, nesse conjunto de critérios que avalia a atuação das empresas a partir de três áreas consideradas chaves: ambiental, social e governança.
Casa Relvas, da região do Alentejo, em Portugal, Susana Balbo, de Mendoza, na Argentina, e Casella Family Brands, na Austrália, estão entre as vinícolas que têm reforçado iniciativas ESG em seus negócios ao unir qualidade, eficiência e sustentabilidade na produção. Com isso, atraem cada vez mais consumidores atentos à produção de vinhos que favorece o meio ambiente e não apenas o consumo da bebida em si.
Como parte do Programa de Sustentabilidade de Vinhos do Alentejo (PSVA), a Casa Relvas foi a primeira, entre as dez maiores empresas produtoras de vinho da região, a obter a certificação de Produção Sustentável.
A Casa Relvas é um projeto familiar que nasceu em 1997 e envolve o trabalho de duas gerações. Atualmente, conta com 350 hectares de vinha, com uma produção de 6 milhões de garrafas por ano, 70% das quais são exportadas para mais de 30 países, incluindo o Brasil.
Confira abaixo a sustentabilidade na vinícola traduzida em números:
CO2
- A empresa toma medidas para assegurar que o CO2 produzido por garrafa vendida diminua progressivamente.
- 90% dos vinhos são embalados em garrafas leves (menos de 420g).
ÁGUA
- 100% da água utilizada na adega é reciclada para irrigação.
- O consumo de água é controlado com sensores de tensão hídrica e bombas de irrigação eficiente.
- Contadores de água e medidores permitem controle remoto do consumo de água.
SOLO
- 100% de conformidade com Global Gap e 100% PSVA.
- 20% de agricultura biológica – o rebanho de ovelhas Merino permite o uso mínimo de herbicidas, com fertilização natural das videiras com composto animal e urbano.
BIODIVERSIDADE
- Corredores de biodiversidade na vinícola com plantas nativas.
- Insetos e fungos nativos para favorecer o ecossistema de forma natural, evitando uso de produtos químicos.
GESTÃO DE RESÍDUOS
- 95% dos resíduos são reciclados.
- 98% de cartão certificado FSC (Forest Stewardship Council), que atesta o uso de produtos florestais, madeireiros e não madeireiros provenientes de florestas bem manejadas.
FLORESTA
- A Casa Relvas possui 725 hectares de floresta ibérica, contribuindo para a preservação da biodiversidade.
- Essa área é um dos 36 hot spots mundiais – áreas naturais do planeta Terra que possuem uma grande diversidade ecológica e que estão em risco de extinção.
SOCIAL
- A Casa Relvas dedica 10% de seus resultados a doações para instituições sociais da região do Alentejo.
“A sustentabilidade é a forma da Casa Relvas estar no negócio. Desde que iniciamos nossa produção, nossa prioridade são as pessoas e o meio ambiente. Muito antes de as certificações serem exigidas, esse já era o nosso jeito de fazer vinho. Além disso, buscamos ser uma referência para os pequenos produtores, que não podem fazer investimentos grandiosos em tecnologia, mas podem aplicar uma mentalidade de trabalho sustentável no dia a dia.”
ALEXANDRE RELVAS
CoCEO da Casa Relvas
Uma das maiores fazendas solares da Austrália
Com o objetivo de reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa em 50% até 2030, e alcançar 100% até 2050, a Casella Family Brands fez seu maior investimento em sustentabilidade neste ano. A vinícola, que já tinha uma fazenda solar de capacidade de 5,7MW, lançou um segundo sistema solar para alimentar a estação de tratamento de águas residuais. Trata-se de uma das maiores fazendas solares do país, com a geração de 890,47 MWh de eletricidade por ano.
Outras iniciativas da empresa incluem avaliar o potencial de energia solar nas instalações da Morris Winery e melhorias na fábrica de cerveja em Yenda, com otimizações de energia nos equipamentos e redução de movimentações de pallets utilizados na logística. Tanto na vinícola quanto na unidade de engarrafamento em Yenda, 78% dos resíduos são reciclados.
Melhorias na compactação de resíduos plásticos reduziram o movimento de caminhões em 22%, e a vinificação produz subprodutos como hastes compostadas e bagaço reciclado. A vinícola australiana possui ainda um dos maiores sistemas de tratamento de águas residuais do país, reciclando o equivalente a mais de 160 piscinas olímpicas por ano. Realiza, ainda, o plantio de árvores nativas e aplica cobertura morta sob as videiras.
No quesito embalagens, a empresa faz parte da Australian Packaging Covenant Organisation (APCO) e trabalha para otimizar embalagens e reduzir o peso das garrafas de vidro. Fechamentos resseláveis e recicláveis, como ZORKS e Nomacorc, também são usados para manter o frescor dos vinhos e reduzir a pegada de carbono.
“O valor projetado para o investimento nos projetos solares é de vários milhões de dólares. A empresa adota práticas sustentáveis de forma holística, abordando resíduos, biodiversidade, água e embalagens.”
JOHN CASELLA
Diretor da Casella Family Brands
Susana Balbo: sustentabilidade e liderança feminina
Na Argentina, a vinícola Susana Balbo investe na atuação sustentável para fortalecer o enoturismo, com hospitalidade e gastronomia de primeira qualidade, visando garantir esse acesso também às futuras gerações. Tanto que a vinícola divide a gestão de sustentabilidade em três pilares: negócios, pessoas e ambiente.
Na frente de negócios, foca em iniciativas de segurança do trabalho, segurança alimentar e qualidade dos produtos. Aliás, a vinícola é referência no tema e atua em conformidade com os marcos definidos pelo Protocolo de Sustentabilidade de Bodegas da Argentina, além de atender à Brand Reputation Through Compliance Global (BRCGS) e ao Pacto Global das Nações Unidas.
No pilar pessoas, a diversidade está em foco. Fundada em 1999 pela primeira enóloga da Argentina, Susana Balbo, a vinícola abraça fortemente a abordagem de ESG. A começar pela presença de lideranças femininas na diretoria, incomum no mercado de vinhos. Do total de funcionários da vinícola, cerca de 40% são mulheres. Nos cargos gerenciais da empresa, 45% são ocupados por mulheres e o objetivo de Susana é ir além.
A filha de Susana, Ana Balbo, por exemplo, é diretora de Marketing da vinícola, cofundadora do hotel boutique Susana Balbo Unique Stays e, ainda, fundadora do Osadía de Crear, um restaurante na vinícola que valoriza ingredientes e a cultura da região.
Na questão ambiental, a gestão eficiente da água e da energia nas instalações de produção e nos vinhedos é ponto de atenção constante da Susana Balbo, que busca adotar tecnologias e práticas que minimizem o consumo, além da educação continuada dos trabalhadores para promover a utilização responsável de cada recurso.
“Analisamos como gerir nossos vinhedos de maneira sustentável e promovemos práticas agrícolas respeitosas com o meio ambiente e a biodiversidade; fomentamos a biodiversidade nos vinhedos e protegemos os ecossistemas do nosso entorno.”
EDGARDO DEL PÓPOLO
Gerente geral e viticultor responsável pela frente de sustentabilidade da vinícola Susana Balbo
EM TEMPO
- Os rótulos da Casa Relvas, Susana Balbo e Casella Family Brands fazem parte do catálogo da importadora Cantu Grupo Wine. Aliás, vale ressaltar que a Cantu tem exclusividade no Brasil dos vinhos da Casa Relvas, assim como do reconhecido Torrontés, da Susana Balbo. Mais informações no site: www.cantugrupowine.com.br.
- Agora, quem quiser saber mais sobre a pauta ESG, o Meio & Mensagem publicou em 2023 um texto bem completo sobre o assunto e que pode ser conferido no seguinte link: www.meioemensagem.com.br/marketing/agenda-esg.
(*Com informações Assessoria de Imprensa)
– ENTRE TANINOS –
Novo podcast quer promover o vinho brasileiro
“Vai de Vinho Brasileiro” é o nome do podcast que o Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS) lança na quarta-feira, 27 de novembro. Trata-se de uma iniciativa que conta com o apoio da cooperativa de crédito Sicredi e do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para fortalecer a cultura do vinho e compartilhar histórias, conhecimentos e inovações do setor vitivinícola no país.
Com apresentação de Daniel Perches, publicitário, empresário e influenciador digital conhecido pelo perfil Vinhos de Corte (@vinhosdecorte), o podcast terá episódios quinzenais, disponíveis em áudio e vídeo nos canais do Vinho Brasileiro no YouTube e no Spotify, além de outros tocadores de podcast. Gravado na Sala do Vinho Brasileiro, em Bento Gonçalves, o programa é uma oportunidade para explorar o universo dos vinhos e espumantes brasileiros sob diferentes perspectivas e de forma acessível. (*Com informações Assessoria de Imprensa)
– HARMONIZA SOM –
“Carlos, Erasmo”: um disco que merece um brinde
Já vou avisando: se você não assistiu ao filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, nesse texto tem spoiler. Musical, mas tem. Dito isso, quem já viu sabe o impacto que causa a música “É Preciso dar um Jeito Meu Amigo”, de Erasmo Carlos. Depois da história marcante e tão importante contada no longa-metragem, que é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, assistir aos créditos finais ao som dessa obra-prima do eterno Tremendão nos deixa presos à cadeira da sala de cinema.
“É Preciso dar um Jeito Meu Amigo” é uma das faixas do disco “Carlos, Erasmo”, lançado pelo artista em 1971. Trata-se de um álbum diferente do que se imagina ser um disco de Erasmo Carlos, o amigo de fé, irmão e camarada de Roberto Carlos, com quem compôs centenas de canções românticas ao longo de sua carreira. Por outro lado, é um trabalho que é a cara da época, ou seja, é experimental, ousado e provocativo.
Para se ter uma ideia, “Carlos, Erasmo” abre com “De Noite na Cama”, escrita especialmente para ele por Caetano Veloso, canção esta considerada uma ode à maconha – musicalmente, é um samba-rock. Outros compositores gravados por ele no disco foram Taiguara (“Dois Animais na Selva Suja da Rua”), Jorge Ben Jor (“Agora Ninguém Chora Mais”) e Marcos e Paulo Sérgio Valle (“26 Anos de Vida Normal”), entre outros. Isso sem falar nas músicas de autoria do próprio Erasmo.
É um disco para ser degustado, de preferência com um bom vinho. Está disponível no YouTube, Spotify e outras plataformas de streaming.
Ah! “Ainda Estou Aqui” segue em cartaz nos cinemas. Para quem não assistiu, segue o trailer:
E leia o livro!
*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.
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