Por Lalá Ruiz*
O vinho em lata está cada vez mais popular, principalmente devido à praticidade, e com cada vez mais opções de marcas no mercado. Ao pesquisar sobre essa “novidade” não tão nova assim – as primeiras tentativas (frustradas) de “enlatar” vinho datam dos anos 1930, época em que a indústria de bebidas passou a adotar esse tipo de embalagem -, encontrei uma história pra lá de curiosa contada pelo médico, professor e escritor mineiro Júlio Anselmo de Sousa Neto em texto publicado na revista online Vinho Magazine.
Segundo conta Sousa Neto, o primeiro vinho em lata do Brasil, chamado Vinhas de Israel, foi produzido pela Agroindustrial Israel e Silva, da cidade de Santa Rita de Caldas, no sul do Estado de Minas Gerais, empresa conhecida pela marca Doces Gigante.
O vinho foi lançado em 1971. Porém, o produto começou a ser desenvolvido e testado mais de uma década antes, em 1958, quando José de Alencar e Silva assumiu o lugar do pai, Israel Theodoro do Nascimento e Silva, no comando do negócio.
Esse longo período de gestação foi consequência, justamente, da falta de uma tecnologia adequada que impedisse o vinho de corroer o verniz que protegia o interior da lata. Até que, em 1970, José de Alencar viajou para a França em busca de uma solução para esse problema.
E conseguiu: foi lá que ele aprendeu que, para garantir a qualidade da bebida, as latas teriam de ser feitas de aço e protegidas internamente com um verniz especial. Assim, com os invólucros corretos, que no início eram produzidos exclusivamente pela Metalúrgica Mococa, da cidade de mesmo nome na divisa de São Paulo com Minas, nascia o Vinhas de Israel, vinho de mesa em lata comercializado nos tipos branco, rosé e tinto.
Ironicamente, nestes tempos em que o vinho em lata experimenta um “boom”, principalmente entre o público jovem, o Vinhas de Israel já não é mais produzido. Conforme conta Sousa Neto, nos anos 1970 as latas de bebida começaram a evoluir, até que passaram a ser fabricadas 100% de alumínio. Sem tecnologia para o envase de vinho no novo tipo de embalagem, a Vinhos de Israel deixou o mercado em 1990.
Porém, ainda de acordo com Sousa Neto, a atual administradora da Agroindustrial Israel e Silva, Maria Salete e Silva Sauda, que é filha de José de Alencar – ela assumiu o comando da empresa após a morte dele, em 2003 -, seus sobrinhos estudam retomar a produção de vinho em lata.
Bacana ou o quê?
Sobre o mercado de vinho enlatado em geral, trata-se de um nicho que começou a se desenvolver para valer no início dos anos 2000. No Brasil, os produtores se renderam a essa tendência com mais força nos últimos anos.
Entre as marcas brasileiras que apostam no formato estão a Arya Wines, da Serra Gaúcha; Somm, rótulo próprio do e-commerce Wine, produzido a partir de uvas plantadas no Rio Grande do Sul e no Vale do Rio São Francisco; Vivant Wines, do Rio de Janeiro, que enlata vinho da Serra Gaúcha; Artse, da Vinícola Casa Onzi, também do Rio Grande do Sul; e Sauv, da Vinícola Góes, de São Roque, interior de São Paulo.
Entre os rótulos estrangeiros, destacam-se a marca Lovely Rita, da vinícola chilena Santa Rita; It’s Wine o’Clock, da também chilena VyF Wines; Santa Julia, da argentina Família Zuccardi; Barokes Wines, da Austrália; e Dark Horse, da Califórnia, nos Estados Unidos.
Diz aí: você já se rendeu à latinha de vinho?
EM TEMPO 1
A Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas) produziu um conteúdo bem legal sobre a história das latinhas de alumínio que pode ser acessado clicando aqui.
EM TEMPO 2
Sim, o assunto aqui é vinho. Mas, não posso deixar de registrar que o Midnight Oil, uma das melhores bandas de rock australianas de todos os tempos, famosa pelo ativismo em prol da proteção do meio ambiente, está de volta. O grupo lançou na última quinta-feira (28/10) o vídeo com a música Rising Seas, e mostra que não perdeu a essência nem a indignação. Um brinde ao rock que não se rende ao sistema!
Foto no alto: vinho em lata rosé da Arya Wines (Divulgação)
*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.
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