O sistema alimentar é composto por um conjunto de regras, representações e práticas, que apresentam variáveis de um grupo social para o outro. Dessa forma, o comportamento dos seres humanos em relação à gastronomia pode desvendar muito da sociedade a que pertence.
As comunidades constroem pratos que caracterizam sua identidade local a partir do que é consumido na coletividade, e essa iniciativa auxilia a fortalecer sua cultura ao longo do tempo. Alguns pratos colaboram, inclusive, para formar a ideia de identidade nacional, como é o caso da feijoada no Brasil, mesmo que o brasileiro não tenha o hábito de comer este prato constantemente.
De acordo Santos (1), comer é um ato social, pois constitui atitudes ligadas aos usos, costumes, protocolos, condutas e situações. “Nenhum alimento que entra em nossas bocas é neutro. A historicidade da sensibilidade gastronômica explica e é explicada pelas manifestações culturais e sociais como espelho de uma época e que marcaram uma época.”
A comida brasileira, por exemplo, é resultado de uma primeira integração culinária portuguesa com a indígena, que depois foi mesclada à cozinha africana. Nossos pratos revelam essa mistura, que apontam para o domínio do colonizador em nossa gastronomia.
Com a abertura dos portos, ocorrida após a Independência, a nação brasileira assumiria novos rumos em sua gastronomia por conta de outras influências advindas da entrada de produtos alimentícios vindos de outros países e com a chegada dos imigrantes, que vieram trabalhar, principalmente, na lavoura do café, espalharam-se pelo país e deixaram sua contribuição para o enriquecimento da nossa cultura.
O gosto dos brasileiros pelo macarrão veio dos italianos. Dos alemães, assimilamos a cerveja. Os árabes sírio-libaneses trouxeram o quibe, a esfiha e ingredientes como a lentilha e a hortelã. Os espanhóis nos deram a tortilla feita ovos e batatas e a paella. Dos japoneses, herdamos o pastel de feira e os ingredientes à base de soja, como o tofu.
Esses são apenas alguns dos cerca de 70 povos recebidos pelo Brasil. Todos eles “acabaram criando raízes, misturando-se e deixando o nosso país ainda mais colorido étnica e culturalmente. E com certeza, muito mais saboroso”, comentam Freixa e Chaves (2).
Texto e foto: Érika Soares
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(1) Carlos Roberto Antunes dos Santos. A alimentação e seu lugar na história: os tempos da memória gustativa. Curitiba: Editora UFPR, 2005.
(2) Dolores Freixa e Guta Chaves. Gastronomia no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2009.
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