Por Lalá Ruiz*
Em entrevista ao site Winext (confira aqui), o britânico Neil Tully, considerado o grande especialista mundial em criação de rótulos de vinho, lamentou que os empresários desse mercado, em sua maioria, prefiram investir na cantina e nos vinhedos do que no marketing e no design de seus produtos.
“Nestes 28 anos em que trabalho com o design de rótulos, vejo que os produtores ficam felizes em investir em equipamentos de última geração e em vinícolas encantadoras, enquanto as suas garrafas vão para o mercado com uma aparência, francamente, medíocre”, declarou ao Winext.
Para Tully, a garrafa é a única coisa que a maioria dos consumidores verá de um produtor, pois dificilmente eles terão a oportunidade de visitar a vinícola. Por isso, ele defende que os vinicultores invistam tempo e dinheiro nos rótulos. Por quê? Porque “o vinho é um dos poucos produtos que as pessoas colocam na mesa. Temos nossos amigos em volta, todos veem esse rótulo e somos julgados por ele”.
Essas afirmações de Tully podem soar um tanto dramáticas, afinal, o que queremos, no final das contas, é beber vinho. Mas, concordo que um rótulo bem feito aumenta a curiosidade quanto à bebida “guardada” na garrafa.
Eu adoro rótulos “diferentões”, especialmente quando acompanhados de nomes instigantes. Por exemplo: a vinícola Conceito, da região do Douro, em Portugal, tem em seu catálogo os vinhos Bastardo e Legítimo.
O primeiro é feito com a uva de mesmo nome, de origem francesa, com produção mais limitada. Já o segundo leva cepas do Douro e é quase um “vinho de consolação” para os clientes que ficaram sem o Bastardo. Nas respectivas garrafas, os rótulos, de certa forma, corroboram essa ideia.
Trio biodinâmico
Outro exemplo bacana vem da Bodega Matsu, da região do Toro, na Espanha. A vinícola, cujo nome quer dizer “esperar” em japonês, aposta no manejo biodinâmico (ou ecologicamente correto) das uvas da variedade Tempranillo e produz três vinhos cujos rótulos são pra lá de simbólicos e marcantes, com imagens de viticultores de diferentes gerações.
O El Pícaro, descrito como um vinho frutado, refrescante e de aroma marcante, traz estampado na garrafa o rosto de um homem jovem. Já o El Recio, representado por um homem maduro, de meia idade, é um vinho mais elaborado e equilibrado.
Por fim, o El Viejo tem no rótulo o retrato de um velho de rosto marcado pelo tempo. Não por acaso, é considerado o exemplo perfeito de um vinho de Denominação de Origem da região de Toro.
E vocês, já pensaram sobre isso? Deve-se julgar o vinho também pelo rótulo?
EM TEMPO 1
Cansado de defender a produção da região do Languedoc, no sul da França, cuja qualidade era constantemente questionada, um dono de restaurante chamado Jean-Marc Speziale encomendou à Cooperativa de Gignac um vinho de qualidade excepcional, elaborado com uvas colhidas manualmente.
Esse vinho, batizado com o nome Le Vin de Merde (O Vinho de Merda), foi lançado em 2008 e tornou-se um tremendo sucesso, sendo produzido até hoje. Ah! Um detalhe se destaca no rótulo e no gargalo: uma mosca.
EM TEMPO 2
O Atelier Moët, da champanhe Moët & Chandon, já aceita encomendas dos clientes interessados em comprar garrafas personalizadas com cristais Swarovski. A loja virtual entrega para todo o Estado de São Paulo. Podem ser personalizadas garrafas nos formatos regular (750ml), Magnum (1,5 litro) e Jeroboam (3 litros). Preços: de R$ 669,99 a R$ 4.769,99. Para quem quer e pode encarar, mais informações pode ser obtidas no site www.ateliermoet.com.br.
Crédito da foto no alto: Gerd Altman por Pixabay
*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.
3 Replies to "Precisamos falar sobre vinhos e seus rótulos"
Marco Antonio Batista de Oliveira 15 de agosto de 2021 (08:40)
Minha avó já dizia: beleza se põe a mesa
lala 18 de agosto de 2021 (18:01)
Sábia!
lala 23 de novembro de 2021 (15:33)
Sábia a sua avó.