Os monges da abadia de St. Joseph’s, em Spencer (Massachussets) anunciaram no início de maio que a cervejaria que tanto trabalharam para ser reconhecida como a primeira trapista nos Estados Unidos fechará as portas. A justificativa é de que negócio não foi viável para o monastério. Inclusive, já falamos sobre os feitos da cervejaria estadunidense quando abordamos as trapistas, aqui.
Em sua página no Facebook, a Spencer anunciou: “Depois de mais de um ano de reflexão, os monges da abadia de St. Joseph vieram à triste conclusão de que fazer cerveja não é uma indústria para nós e que é hora de fechar a Spencer Brewery. Nós queremos agradecer todos nossos clientes pelo apoio e incentivo ao longo dos anos. Nossas cervejas continuarão disponíveis nos estabelecimentos enquanto houver estoque. Por favor, nos mantenha em suas orações.”
Aparentemente, a Spencer tentou formas de evitar o pior pedindo a ajuda da Northeastern University, de Boston, para desenvolver novas campanhas para alavancar a popularidade da cervejaria além do vilarejo – sem sucesso. Uma das ideias era abrir um Tap room para ajudar nas vendas das cervejas, mas foi colocada de lado pois alguns monges hesitaram sobre sua viabilidade.
O monastério trapista de Spencer existe desde 1950, mas somente após 60 anos de produção de guloseimas como geleias, os monges se aventuraram na milenar tradição de produzir cerveja – dentro de todas as regras que fazem uma verdadeira cerveja trapista, como ser produzida 100% dentro da abadia e ter seus lucros revertidos para manutenção dos monges e da comunidade. Houve extensa pesquisa junto de outros cervejeiros trapistas pela Europa. Por isso, a International Trappist Association concedeu o selo, que tornou a Spencer a primeira trapista fora do continente europeu.
Com a retirada da Spencer do mercado, restam somente 13 cervejarias trapistas – seis na Bélgica, um na França, um na Espanha, dois na Holanda, um na Inglaterra, um na Áustria e um na Itália.
A cervejaria, que funcionava desde 2014, é reconhecida por seus rótulos refinados, muito elegantes aliás. As cervejas eram feitas com água direto do aquífero abaixo da abadia, e fermentadas pela segunda vez dentro da garrafa, importada da Europa. Os monges ousaram criar além das tradicionais Trapistas de estilo belga, Trappist Imperial Stouts, Trappist Premium Pilsner e até mesmo IPAs, para se aproximar dos anseios de seus consumidores mais jovens e seguir tendências do mercado norte-americano.
O anúncio, além de triste, significa um grande retrocesso para o reconhecimento trapista ao redor do mundo.
Só nos resta desejar um belo futuro, tanto para a Spencer em suas futuras empreitadas, quanto para o mundo das trapistas como um todo. Que outras abadias ao redor do globo tenham a chance de produzir belas trapistas, serem sólidas e bem sucedidas.
* Letícia Cruz Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! Criadora do @cervejopedia no Instagram e da loja @cervejopedia.beershop, que fica em Santana, capital paulista.
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