Quando panquecas eram comidas típicas de carnaval

Quando se pensa em carnaval logo vem à mente as orientações típicas dos nutricionistas: ingestão de comidas leves e muito líquido para hidratar por conta do calor e do esforço físico. Mas nem sempre foi assim.
Historiadores citam as panquecas e os waffles como comidas típicas desta festa, que ao contrário do que muitos pensam não é 100% brasileira. Nosso carnaval é uma versão do Entrudo europeu (a palavra significa início, começo, abertura da Quaresma) e desembarcou por aqui com os portugueses. Aliás, durante o reinado de Afonso VI e João V, o Entrudo era bastante violento e com muita ingestão de bebida alcoolica. No Brasil, essa festa era celebrada no período colônia e a população mais pobre realizava brincadeiras nas quais se jogavam água, farinhas e polvilhos, limões de cheiro, café, tinta, groselha, lama e até urina. As elites eram contra a manifestação e nos idos de 1840 foi iniciada uma campanha para acabar com a prática, da qual o carnaval é derivado.
Mas voltando à cultura gastronômica, por que comia-se panquecas e wafles neste período? Segundo Sandra Mian, engenheira de alimentos e estudiosa dos aspectos antropológicos da alimentação, “até bem depois da Idade Média, entrando na Renascença e Idade Moderna, fazer crepes e waffles era algo típico do carnaval, porque depois vinha a Quaresma quando não podiam comer nem carne, nem ovos, nem leite, nem manteiga, nem nada! A Europa era massivamente católica e todos tinham que seguir na risca, senão o castigo era grande. Tinha até castigo corporal, prisões e outras coisas, como humilhação pública”.
No livro Variedades de História Cultural *, o historiador inglês Peter Burke fala sobre o o consumo maciço de carne, panquecas e (nos países baixos), além dos waffles, que atingia seu clímax na terça-feira gorda, que na Inglaterra do século XVII era referida como ocasião de “tanto cozer e grelhar, tanto torrar e tostar, tanto ensopar e fermentar, tanto assar, fritar, picar, cortar, trinchar, devorar e se entupir a tripa fora que a gente acharia que as pessoas mandam para a pança de uma só vez as provisões de dois meses”.
Então, que venham as panquecas! Bom carnaval!
* BURKE, Peter – Variedades de História Cultural – 2ª Ed São Paulo Companhia das letras, pág 217 – 1983.
Foto: Sandra Mian

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