Por Lalá Ruiz*
Canções sobre vinho existem aos montes por aí, dos mais variados e até mesmo questionáveis estilos musicais. Mas, uma das que acho mais significativas, e que está entre as minhas preferidas, é Bebendo Vinho.
Composta na década de 1990 por Wander Wildner, ex-vocalista da banda gaúcha de punk rock Os Replicantes, essa música ficou bastante conhecida do grande público ao ser gravada pelo grupo Ira!.
Ao pesquisar sobre a canção, tão emblemática quanto seu autor, encontrei no canal de Wander Wildner no YouTube uma série de vídeos chamada Compondo uma Canção. Pois o primeiro episódio é justamente sobre Bebendo Vinho.
Nele, Wildner conta que, em 1993, quando morava no Rio de Janeiro, passou no mercado ao voltar do trabalho que fazia em uma empresa de iluminação de shows e espetáculos, comprou um pacote de macarrão, outro de molho e uma garrafa de vinho.
Vinho este, lembra o compositor, procedente da cidade de Caxias – não do Sul, mas Duque de Caxias, da Baixada Fluminense. Uma bebida, segundo ele, “de uma qualidade única”. “Eram tempos difíceis”, diz no vídeo.
Ao chegar em casa, encontrou uma carta enviada por uma amiga, com quem tinha deixado seu cachorro, informando que o cão havia sido roubado. Logo depois cozinhou a massa, abriu o vinho e escreveu a letra. Leia abaixo:
“Eu vivo sozinho e apaixonado
Não tenho ninguém aqui do meu lado
Meu cachorro Vênus foi roubado
Fiquei um pouco preocupadoVou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminho
Vou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminhoChove pra caramba aqui no Rio
Penso no sul aquele frio
A TV diz que vai fazer sol
Não sei se é bom ou é piorVou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminho
Vou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminhoNo rádio toca o velho rock’n’roll
Fico pensando aonde estou
Nada satisfaz nesta hora
Se é assim eu vou emboraVou me entorpecer bebendo vinho
(Wander Wildner)
Eu sigo só o meu caminho
Vou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminho
Meses depois, já de volta ao Rio Grande do Sul e morando no sítio dos pais até decidir o que fazer da vida, encontrou, no quarto destinado a ele, um violão que pertencia a uma ex-namorada do irmão. Pois ele pegou o instrumento, a letra que havia escrito no Rio de Janeiro, e assim nasceu a canção Bebendo Vinho.
Porém, a música só ganhou o formato definitivo depois que Wildner a mostrou para Teddy Corrêa, vocalista do Nenhum de Nós, que sugeriu a inclusão de “uma simples nota Dó”, mas que fez toda a diferença. Hoje, Bebendo Vinho é um clássico do rock brasileiro.
PARA MONTAR UMA PLAYLIST
Outras canções bacanas sobre vinho que você pode ouvir no Spotify, Deezer e YouTube Music:
- TAÇA DE VINHO, Wilson das Neves – Composta por Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro, essa canção ao estilo “dor de cotovelo” foi lançada em 1996, como parte do disco O Som Sagrado de Wilson das Neves.
- RED RED WINE, UB40 – Composta por Neil Diamond em 1967, tornou-se um clássico dos anos 1980 na versão reggae do grupo britânico UB40.
- SUMMER WINE, Nancy Sinatra e Lee Hazlewood – Lançada em 1966, fez parte do disco Nancy in London, de Nancy Sinatra. Essa música teve várias gravações, incluindo uma solo de Lee Hazlewood, que é o autor.
- HOW DOES THE WINE TASTE?, Barbra Streisand – De Matt Dubey e Harold Karr, faz parte do disco People, lançado pela diva Barbra Streisand em 1964.
- SCENES FROM AN ITALIAN RESTAURANT, Billy Joel – Faixa do disco The Stranger, gravado pelo cantor e compositor norte-americano Billy Joel em 1977. É pura poesia em sua simplicidade
Em memória de um amigo
Quando me sentei, na última quarta-feira, para escrever esta coluna, fui surpreendida com a notícia da morte de um amigo querido, o fotógrafo Gustavo Magnusson, para quem a vida se tornou um fardo duro de carregar e o levou ao suicídio. Magnusson gostava de punk rock e de fotografar e acompanhar bandas de Campinas. Dedico esta coluna a ele que, como todo bom punk, era um bom bebedor de… cerveja.
*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.
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