Vinho com nome de vó? Na Serra da Mantiqueira tem!

*Por Lalá Ruiz

Recentemente, um amigo jornalista me apresentou ao Brandina Assemblage 2020, um tinto seco de inverno, jovem e leve, feito com uvas Syrah e Cabernet Franc e produzido pela Villa Santa Maria.

Trata-se de uma vinícola localizada na Serra da Mantiqueira, região na divisa dos estados de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro que tem ganhado destaque no cenário nacional pela excelência de seus vinhos, consequência, principalmente, da adoção de técnicas desenvolvidas para o setor pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).

Gostei muito do vinho e, numa conversa por vídeo chamada com Mário Augusto Carbonari, o Guto, que é o responsável pelo Setor de Vinhos e Agronomia da Villa Santa Maria, pude conhecer um pouco da história dessa vinícola.

Guto contou, por exemplo, que em 2010 foi produzido o primeiro vinho no local. No caso, uma mistura de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, variedades de uva plantadas à época na propriedade que fica na cidade de São Bento do Sapucaí (SP) e foi adquirida pela família Carbonari no início dos anos 2000.

A bebida não foi comercializada – além de o volume ter sido pequeno, a ideia era trabalhar o produto para entender a que nível de qualidade o vinho da casa poderia chegar.

Em 2013, quando na fazenda já se plantava também a uva Syrah, “nasceu” um vinho juntando as quatro cepas. Foi uma produção de pouco mais de 700 garrafas, em parte distribuída para amigos. “Em 2016, despretensiosamente, enviamos esse vinho para um concurso na França. Ganhamos a Medalha de Prata”, revelou Guto, segundo quem ainda há entre 60 e 70 garrafas desse vinho guardadas “a sete chaves”.

Nos anos seguintes a produção encorpou, os vinhos ganharam o nome Brandina em homenagem à matriarca dos Carbonari (chamada carinhosamente pela família de Vó Ina) e, em 7 de julho de 2018, foi inaugurado oficialmente o complexo de enoturismo e gastronomia Villa Santa Maria.

Vinhedo da Villa Santa Maria: sete variedades de uva (Divulgação)

Em região estratégica, próxima da Pedra do Baú, uma atração que atrai adeptos de escaladas, saltos de paraglider e voos de asa delta, e a dez quilômetros do famoso Auditório Cláudio Santoro, onde se realiza o Festival de Inverno de Campos do Jordão, o empreendimento oferece, neste momento em que o turismo regional começa a se recuperar dos efeitos da pandemia, diferentes experiências aos visitantes, todas mediante reserva e, segundo Guto, respeitando protocolos sanitários.

Há tours guiados seguidos de degustação para grupos de 15 pessoas a R$ 50 cada (o uso de máscara é obrigatório durante o passeio), e também piqueniques com mesas no meio do vinhedo e ao redor de matas e florestas pequenas da propriedade (o valor varia de R$ 150 a R$ 180 por pessoa, dependendo da opção de consumo feita no momento da reserva).

No quesito gastronomia, a atração é o restaurante Bruschetteria da Villa, composto por dois ambientes: o espaço Terrazzo, no qual é servido um menu gastronômico, e o Giardino, com tábuas de frios e bruschettas. Tudo harmonizado com os vinhos Brandina e em dois turnos de atendimento. De acordo com o empreendedor, o espaço é todo aberto.

Um detalhe: quem quiser fazer a visita guiada e também almoçar no local, tem 50% de desconto no valor do tour. E na atual temporada, o restaurante também funciona às sextas e sábados à noite com as seguintes opções de cardápio: três tipos de caldos ou sequência de fondues.

Complexo oferece visitas guiadas seguidas de degustação (Divulgação)

SOBRE UVAS, VINHOS E PANDEMIA

São plantadas hoje na Villa Santa Maria as variedades Syrah, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Viognier, sendo que a linha de vinhos Brandina inclui tintos, brancos e rosés, com vinificação na Casa Geraldo em Andradas (MG) e maturados em barricas. A produção é majoritariamente voltada para consumo e venda no complexo, apesar de a vinícola ter e-commerce próprio.

“Temos uma preocupação muito grande em não ter ruptura de produtos na vinícola e no restaurante, porque a gente vende essa experiência gastronômica, e seria um vexame você chegar pra comer e não ter vinho”, afirma Guto.

O ano de 2020, apesar dos muitos desafios impostos pela Covid-19, foi de produção muito positiva na Villa Santa Maria, na avaliação do empresário. Ele conta que a colheita foi boa não só em quantidade, mas também em qualidade. Foram colhidas 45 toneladas e a previsão é de chegar a 60 toneladas em 2021. Já a produção de vinhos em 2020 foi de 40 mil garrafas, com projeção de 60 a 65 mil para este ano.

Porém, revela o empreendedor, como a vinícola ficou fechada ao público por quase um ano, “colhemos, convertemos em vinho, mas não comercializamos.” Como consequência, o valor tirado de caixa para manter a propriedade funcionando como se deve, foi alto. “Como diz o jargão popular, o agro não para. E não para mesmo. A adubação e todo o cuidado fitossanitário com o vinhedo em momento algum pararam”, lembra.

Entre a lavoura e o restaurante, a Villa Santa Maria conta com 55 funcionários, todos treinados pela empresa. Nenhum foi demitido durante o período mais difícil, mas jornadas de trabalho foram negociadas e férias concedidas a quem tinha direito. “Fomos aguentando. Vendemos bens, pegamos dinheiro em banco e seguramos a operação em pé.”

Segundo Guto, a Villa Santa Maria até poderia ter optado por vender sua produção em empórios especializados. Mas, optou-se em manter o projeto original de concentrar o comércio no complexo. Na visão do empresário, uma vez que você abre a venda externamente, você tem a responsabilidade com o seu parceiro de não interromper o fornecimento do produto. “Por isso tomamos a decisão de não abrir.” Desejo sucesso e espero visitar a Villa Santa Maria em breve.

SERVIÇO

  • Vinícola Villa Santa Maria
  • Estrada Municipal José Theotônio da Silva, s/n, Bairro do Baú, São Bento do Sapucaí (SP)
  • Atendimento: Somente com reservas
  • Mais informações: WhatsApp +55 (12) 99649-2728 | site villasantamaria.com.br
*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.

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