Winter Ale: Afinal, existe mesmo cerveja de inverno?

Não há uma nomenclatura oficial e nem estilo de inverno em específico. O que é chamado de “cerveja para o inverno” é, na verdade, um tipo de cerveja mais encorpada, densa, que é degustada em temperatura mais próxima à ambiente e, claro, com teor alcoolico mais elevado. A presença do alcool, entre 5% a 10%, dá uma sensação maior de aquecimento, sendo este o fator mais procurado em uma bebida em dias frios. Então, muitos acabam relacionando esse perfil a cervejas mais escuras como as Porters ou Stouts, mas no texto dessa semana você vai ver que o universo de estilos para a estação é bem maior.

As winter ales são tradição há bastante tempo, principalmente nos países-berço das cervejas como conhecemos (que coincidentemente enfrentam temperaturas bem abaixo de zero durante o inverno). No hemisfério norte são chamadas também de “holiday beer”, ou “christmas beer”, em razão da época do ano. Por aqui, as cervejarias artesanais têm aproveitado a efeméride das festas juninas para assinar seus rótulos de inverno. 

Um exemplo de posset, criado no século 16

Cervejas mais antigas, geralmente as pouco lupuladas, eram servidas quentes e levemente condimentadas para aplacar o frio. Outras combinações incluíam receitas com pimenta, pão, leite, açúcar, gengibre e noz-moscada – o que deu origem ao drink inglês Posset, que pode ser feito tanto com cerveja (ale posset) quanto com vinho. À medida que as cervejas lupuladas ganharam mais espaço, o hábito de tomar cerveja quente no inverno foi deixando de existir aos poucos. O motivo: essas cervejas não reagem bem quando aquecidas.

Com o declínio desse costume, os cervejeiros buscavam cada vez mais por receitas que resultassem em cervejas mais robustas. A inglesa Bass nº 1, barley wine da qual já falamos na coluna anterior, é exemplo de uma winter ale bastante consumida no início dos 1900. Com a queda na popularidade das cervejas escuras, durante os anos 1960, as Extra Special Bitter (ESB) fabricadas pela Fuller ‘s, cervejas fortes e amargas (quase sem dulçor) ganharam espaço no Reino Unido.

Mas, então, quais opções temos além do óbvio para enfrentar nosso inverno tupiniquim? Bem, depende! Se você procura cervejas com maltes mais escuros e condimentadas, uma boa Russian Imperial Stout pode ser a pedida. Destaco aqui a ótima brasileira Bioma, RIS da Cervejaria Dádiva, que tem toque de ingredientes do cerrado como o cumaru e castanha de barú, densa, e de 10% de teor alcoolico.

Das claras às escuras, há opções de cervejas de inverno de vários estilos

Se você é apegado às IPAs e não abre mão dos lúpulos, saiba que as Double, Triple e Imperial IPAs costumam ser encorpadas e potentes. A Digital Rebirth, DIPA da Cervejaria Dogma, é cítrica, frutada, e conta com impressionantes 9% de teor alcoolico. A dica mais clássica das Imperial continua sendo a Perigosa, rótulo da Cervejaria Bodebrown.

Nem sempre lembradas quando falamos de cervejas de inverno, as cervejas de abadia são a prova de que existe cerveja alcoolica e complexa sem ser escura. Com graduação alcoolica que varia de 7,5% a 9,5%, a Tripel, por exemplo, possui aromas frutados (os protagonistas são os maltes e as leveduras). As cervejas de referência são as belgas Westmalle Trippel, e a St. Feuillien Triple Tripel. Entre as nacionais, recomendo a degustação da elegante Tripel Montfort (10% de teor alcoolico), da Bodebrown, que leva cascas de laranja e especiarias como pimenta rosa e Grains of Paradise.

Mas, bom lembrar, curta essas cervejas alcoólicas com moderação!

E o que você costuma beber durante o inverno? Me conta nos comentários!

Saúde!

* Letícia Cruz 
Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! 
Criadora do @cervejopedia no Instagram e da loja @cervejopedia.beershop, que fica em Santana, capital paulista.

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