A industrialização e as mudanças no comportamento alimentar

Os autores que dissertam sobre a história da gastronomia mundial são unânimes ao responsabilizar a industrialização como a principal desencadeadora de mudanças no comportamento alimentar. No livro A História da Alimentação, Flandrin e Montanari (1) consideram que a Revolução Industrial atingiu a história da gastronomia em vários aspectos, mas antes de tudo pelo desenvolvimento promovido no setor. Isso porque produtos intermediários como farinhas, óleos, açúcar, etc., que eram feitos artesanalmente, passaram a ser produzidos por fábricas de farinha, de óleos e refinarias.

Embora a industrialização e a modernização tenham trazido eficiência para o trabalho dos profissionais do ramo gastronômico, elas acabaram colocando em risco seus saberes tradicionais, que há séculos são transmitidos de geração em geração. Atualmente as pessoas têm à disposição produtos alimentares industrializados de diversos tipos: comida congelada, desidatrada, hortifrutigranjeiros industrializados, carne recheada de enzimas e produtos químicos para modificar o gosto dos alimentos (2).

Alimentos industrializadosA industrialização é também uma das responsáveis pelo distanciamento das pessoas em relação aos alimentos no sentido em que dificulta a percepção da origem e/ou dos ingredientes que compõem um prato. A intensificação do desenvolvimento tecnológico, que propiciou alterações no modo de vida dos indivíduos e revolucionou a cozinha, colabora nesse sentido. (3)

Aliado ao avanço e ao crescimento da indústria, outro fator acarretou em alteração no comportamento alimentar: a urbanização. Essa combinação proporcionou a inclusão das mulheres no mercado de trabalho e, consequentemente, favoreceu o processo de transferência da alimentação para fora de casa. O que foi chamado por Ariovaldo Franco, no livro de Caçador a Gourmet, de “dessacralização da refeição em família”, com relevante perda de importância da cozinha materna e dos hábitos alimentares na formação do gosto. Com isso, nos grandes centros urbanos, a tendência é que este encontro à mesa seja semanal, principalmente no jantar.

Como um efeito cascata, a saída da mulher do cotidiano da casa para voltar-se ao trabalho impulsionou a indústria na busca de inovações tecnológicas no que diz respeito às embalagens e conservação de alimentos, por exemplo, a fim de simplificar o trabalho doméstico com as refeições.  Fischler (4) destaca o aumento crescente do uso de alimentos pré-processados, como legumes e verduras já cortadas, pré-cozidos e congelados, em detrimento aos frescos.

Assim, este novo estilo de vida impôs novas expectativas de consumo, que acabam orientando, entre outras coisas, as escolhas de alimentos.

Por Érika Soares

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(1) Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari. História da Alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.

(2) Susana Inez Bleil. O Padrão alimentar Ocidental: considerações sobre a mudança de hábitos no Brasil. Cadernos de Debate, Vol. VI, 1998.

(3) Rossana Pacheco da Costa Proença. Alimentação e globalização: algumas reflexões. Ciência e Cultura. Vol.62, N.º4, São Paulo: Out. de 2010.

(4) Claude Fischler, “A McDonaldização dos costumes” in FLANDRIN & MONTANARI, História da Alimentação, 1998, p. 841-862.

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