Por Letícia Cruz*
As cervejas do estilo India Pale Ale – as famosas IPAs – ganharam muitos adeptos desde que a cerveja artesanal efervesceu no Brasil. Criaram até, de certa forma, uma divisão entre o grupo que prefere as lagers mais leves e o que não consegue mais viver sem o aroma e amargor do lúpulo. Aliás, para este Dia das Mães que se aproxima, considere deixar de lado as cervejas doces e presentear a sua com uma IPA! Eu, como mãe, atesto: também gostamos das cervejas amargas!
Se você que frequenta as tap houses mundo afora (ou frequentava antes da pandemia) acha que a IPA é uma invenção moderna por conta do hype, engana-se! As India Pale Ales só existem graças à necessidade dos ingleses em preservarem seu estoque de cerveja durante as longas viagens marítimas à Índia, há mais de 200 anos. Totalmente compreensível! Para isso, se utilizava uma carga extra de lúpulos para que a bebida não estragasse tão rápido quanto as cervejas feitas até então. O motivo dessa adição é que o lúpulo é um conservante natural por ter propriedade antioxidante.
Há até mesmo um dia em homenagem ao líquido lupuloso, que é toda última quinta-feira do mês de agosto. Mais um motivo (como se não houvesse o suficiente) de alimentar o culto à IPA.
A melhor forma de entender a IPA é, obviamente, provando. Resumidamente, seu traço marcante é o nível médio/alto de amargor, a complexidade de aromas vindos dos lúpulos utilizados (cítricos ou herbais por exemplo) e seu corpo médio. Sua cor clássica é âmbar. Para harmonizar com a IPA, pratos de tempero forte ou apimentados vão muito bem, como comida mexicana, hambúrguer, e afins.
Potentes e com uma personalidade única, as IPAs são mais versáteis do que se imagina: hoje há dezenas de sub-estilos produzidos, com variação de receitas além da imaginação. Com o tempo, cervejarias ao redor do mundo foram lapidando e adicionando ingredientes à receita, imprimindo variantes ao estilo. Faço aqui um breve passeio por algumas delas e indico alguns ótimos rótulos, todas de cervejarias artesanais brasileiras:
American IPA
As American IPA são uma variação do estilo clássico inglês, fazendo uso de lúpulos do Novo Mundo que são mais cítricos, florais e frutados. Alguns exemplos são o lúpulo Cascade, Centennial, Simcoe, Amarillo, etc. Só este tópico sobre lúpulos rende outra coluna, pois seu universo e complexidade são imensos! É o estilo que mais floresce em locais onde há crescimento de microcervejarias. Aliás, a maioria dos sub-estilos são provenientes das American IPA.
Indicação: Interestellar, Cervejaria Hocus Pocus
Session IPA
Essa é uma versão mais leve da IPA convencional, com menor teor alcoolico (menos de 5%) e um amargor mais “palatável”. É o tipo de IPA com maior drinkabilidade, mais fácil de beber em quantidades.
Indicação: Session IPA da Cervejaria Landel
Brut IPA
Bem carbonatada, com real aparência de champagne, teor alcoolico moderado e final seco. Não à toa o nome “Brut” foi emprestado da terminologia de champagnes e espumantes. A mágica acontece por conta de uma enzima chamada “amilase”, utilizada na etapa do mosto para quebrar açúcares e fermentar a bebida à totalidade. O segredo para o aspecto translúcido do líquido é o processo de centrifugação.
Indicação: Sparkling IPA, Cervejaria Blondine
Imperial/Double IPA
Conhecida tanto como Imperial como Double, é a versão hardcore da clássica IPA com o detalhe de, como diz o nome, ter o dobro da potência, mais amargor e maior teor alcoolico (geralmente, entre 7% e 9% ABV). Para obter um resultado mais forte, são utilizadas combinações de lúpulos na receita.
Indicação: DogFight Imperial IPA, Cervejaria DogFight
Black IPA
Este sub-estilo é um exemplo de como a variação de maltes tem poder nas receitas de IPA. Para obter o resultado, são utilizados maltes escuros que conferem a coloração marrom intenso e um suave e interessante dulçor que acompanha o amargo dos lúpulos.
Indicação: Black Cat, Cervejaria Invicta
West Coast IPA
A West Coast tem as características das India Pale Ale “raíz”, ou seja, possuem um amargor mais pronunciado que deixa retrogosto na boca. Equilíbrio entre o amargor intenso e os aromas dos lúpulos. Pelo fato de o forte amargor não ser chamativo à maioria do público, o estilo é, infelizmente, preterido ante às variações mais acessíveis ao paladar, como as New England.
Indicação: #03 West Coast IPA, Cervejaria Backbone
New England IPA (NEIPA) – Juicy IPA – Hazy IPA
Diferentemente das West Coast, as NEIPA têm menor índice de amargor, colocando como protagonista os aromas mais cítricos e frutados. Não filtradas, têm uma aparência mais turva, lembrando o aspecto de um suco. Unindo-se ao aroma de frutas, vem outra nomenclatura usada,”Juicy IPA”, ou “Hazy IPA”, denominações utilizadas em razão da turbidez da cerveja – do opaco mais leve ao mais intenso, conferindo uma cor amarela opaca puxado para palha ou alaranjada.
Indicação: The Hops is In The Head III, Cervejaria Dogma
Há muitas outras variações! Conhece alguma outra? Me conte nos comentários qual a sua predileta!
* Letícia Cruz Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! Criadora do @cervejopedia no Instagram.
No Replies to "IPA: um culto ao amargor dos lúpulos"