Por Lalá Ruiz*
Você gosta de vinho quente? Pois essa delícia trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses e que para muitos é sinônimo de festa junina, tem origem milenar. E assim como o jornal, a rede de esgoto e a pavimentação de estradas, foi uma invenção dos romanos, nesse caso, com o objetivo de aquecer corpos e corações nos dias frios do inverno.
Aliás, essa mistura de vinho “cozido” com especiarias e mel é listada com o nome de conditum paradoxum (que pode ser traduzido como vinho apimentado) no compêndio culinário De de Coquinaria (Apicius Culinaris), de Marcus Gavius Apicius (25 a.C.-37 d.C.), que reúne receitas da Roma Antiga e até hoje é referência para historiadores.
Porém, os gregos foram os primeiros a misturar especiarias ao vinho. Mas, não por uma questão de paladar ou para enfrentar baixas temperaturas, mas para evitar o desperdício da bebida. Quando o vinho estava em vias de estragar, acrescentava-se ervas para que as propriedades medicinais dessas plantas fossem potencializadas.
Entre altas e baixas de popularidade ao longo dos séculos, o vinho quente segue firme e forte na preferência de muita gente, com diferentes versões ao redor do mundo, sendo que no Reino Unido, na Alemanha e na região da Alsácia, na França, é uma bebida símbolo do Natal. Atualmente, há até receitas com vinho branco no lugar do tinto – fica quase um quentão.
Eu adoro vinho quente! E na impossibilidade de sair para tomar uma boa caneca numa quermesse de igreja ou festa junina de clube devido à pandemia da Covid-19, vale preparar em casa, sempre na esperança de que tudo isso vai passar e que, em breve, poderemos nos aglomerar de barraca em barraca na busca pelo vinho quente perfeito.
Confira abaixo duas versões da bebida, uma tradicional de festa junina e outra alemã, chamada de Glühwein:
VINHO QUENTE TRADICIONAL
Ingredientes:
- 1 garrafa de vinho tinto
- 2 xícaras de açúcar
- 1 colher de chá de cravo
- 1 laranja cortada em fatias (com a casca)
- ½ maçã picada
- 1 raiz de gengibre cortada em fatias
- 1 pau de canela
Modo de preparo:
Caramelize o açúcar em uma panela funda (fogo médio). Adicione o gengibre, o vinho, a canela e deixe ferver por 5 minutos. Acrescente o cravo, a maçã e a laranja e deixe ferver novamente. Diminua o fogo e deixe cozinhar por mais 5 minutos. Depois, é só servir.
GLÜHWEIN
Ingredientes:
- 1 garrafa de vinho tinto
- 80 gramas de açúcar mascavo
- 2 folhas de louro
- 6 cravos
- 1 colher de sopa de anis-estrelado
- 1 colher de sopa de canela em pó
- 1 pitada de noz-moscada
- Casca de uma laranja
Modo de preparo:
Junte as especiarias, o açúcar e a casca de laranja numa panela funda. Misture e leve ao fogo baixo para esquentar. Adicione um pouco do vinho e mexa até dissolver o açúcar. Depois, coloque o restante do vinho, mexa e deixe cozinhar em fogo bem baixo por 30 minutos, sem que o líquido ferva. Desligue, coe e sirva.
Observação: dá para usar vinho suave nas duas preparações sem qualquer prejuízo no resultado final.
EM TEMPO
Você sabia que algumas das mais populares músicas tocadas nas festas juninas Brasil afora são consideradas marchinhas? No Brasil, principalmente até meados do século passado, as chamadas marchinhas juninas eram tão famosas quanto as de Carnaval. Entre as que se tornaram clássicos estão Isto é Lá com Santo Antônio (1934), de Lamartine Babo (“Eu pedi numa oração/ ao querido São João/ que me desse um matrimônio/ São João disse que não/ isto é lá com Santo Antônio”); Pula a Fogueira (1936), de Getúlio Marinho e João B. Filho (“Pula a fogueira, iaiá/ Pula a fogueira, ioiô/ Cuidado para não se queimar/ Olha que a fogueira já queimou o meu amor”); e Sonho de Papel (1961), de Carlos Braga e Alberto Ribeiro (“O balão vai subindo, vem caindo a garoa/ O céu é tão lindo e a noite é tão boa/ São João, São João!/ Acende a fogueira no meu coração”).
*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.
No Replies to "O vinho quente, quem diria, é mais uma invenção dos romanos!"