Se você acha que 10% de teor alcoólico numa cerveja é muita coisa, já pensou em encarar uma com 28%? Tratadas como raridade – não por menos! – há edições limitadas mundo afora que extrapolam a nossa percepção sobre a cerveja e desafiam o consumidor a encarar um lado mais selvagem e potente da bebida. Existem cervejas raras tão fortes etilicamente falando que se aproximam à bebidas destiladas como o uísque, que têm uma concentração média de 40%, licores e gin, que variam entre 35% a 60%.
Portanto, essas cervejas especiais são feitas para degustar de um jeito diferente das demais – em copos e quantidades modestas, assim como um bom uísque. E como tal, também são vendidas como artigo de luxo para colecionadores.
A Cervejaria Samuel Adams (EUA) lançou no final do mês passado a Utopias, uma cerveja que deu o que falar: ela foi proibida em 15 estados norteamericanos por conta dos seus 28% de teor alcoólico, cinco vezes mais do que o ABV (alcohol by volume) permitido nestes locais. Ou seja, ela já nasceu com uma aura propícia para o marketing. Foi, inclusive, a cerveja oficial da primeira missão de turismo 100% civil que orbitou no espaço.
“Fomos pioneiros no processo de envelhecimento em barril e mistura das Utopias há quase trinta anos e continuamos essa tradição consagrada pelo tempo até hoje”, afirmou o cervejeiro da Samuel Adams Jim Koch, no site da cervejaria. Alguns blends da Utopias envelheceram por trinta anos em barris de bourbon, e isso tem obviamente um preço: cerca de U$ 250 a garrafa, algo em torno de R$ 1.400 na conversão para o real hoje.
Não é preciso ir longe para encontrar exemplares dessas cervejas. A Cervejaria da Cuesta, de Botucatu (interior de São Paulo) bateu o seu próprio recorde neste ano com a Beer Brandy, uma Oak Aged com generosos 35% de teor alcoolico produzida em small batch com garrafas numeradas. Cada garrafa de 500 ml custa em média R$ 490 ao consumidor. A bebida tem baixa fermentação e foi envelhecida por dois anos em carvalho francês – o que, de acordo com a cervejaria, conferiu uma complexidade sensorial maior à cerveja.
A cervejaria apostou na exclusividade para conquistar os clientes, e conseguiu. O lote da cerveja esgotou em sete dias, segundo comunicado no site. Para obter o resultado aveludado e licoroso, foi necessário o uso de cinco tipos de maltes, lúpulos nobres como o Hallertau e Saaz, levedura lager, e uma longa maturação, além de vários processos de concentração.
O exemplar mais potente em álcool conhecido até o momento é a “Strength in Numbers”, cerveja colaborativa entre a inglesa Brewdog e a alemã Schorschbräu, que alcançou impressionantes 57,8% de teor alcoólico. O resultado foi alcançado graças ao método Eisbock, em que o líquido é deixado em temperaturas baixas, quase congelantes, para que seja possível retirar os cristais de água e deixar o máximo de concentração possível na cerveja.
O lote da cerveja lançada no ano passado em garrafinhas de apenas 40 ml e vendida a algo equivalente a R$ 200 esgotou em apenas um dia.
Quero saber: encararia essas belezinhas? Conta pra mim nos comentários!
* Letícia Cruz Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! Criadora do @cervejopedia no Instagram e da loja @cervejopedia.beershop, que fica em Santana, capital paulista.
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