Guerra lá longe, comida mais cara aqui

O que uma guerra do outro lado do mundo interfere no dia a dia do brasileiro? Em muitos fatores, com certeza, especialmente no que diz respeito ao combustível, que impacta nos custos de produção e de transporte de praticamente tudo.

No final, os preços da maioria dos produtos são inflacionados e afetam, e muito, a vida da gente. Mas, no caso da guerra da Rússia contra a Ucrânia há ainda agravantes, já que o Brasil é importador de trigo e de matéria-prima para fabricação de fertilizantes.

Isso quer dizer que o pãozinho e os produtos agrícolas que estão sempres presentes na mesa dos brasileiros podem ter aumentos significativos. Em tempos pandêmicos em que o desemprego está instalado e o número de famintos aumenta a cada dia, não poderia ter panorama mais desanimador pra este início de 2022.

O economista Daví Antunes, que é professor-doutor e diretor-adjunto da FACAMP (Faculdades de Campinas), falou com Entre Sabores sobre o assunto e, inclusive, o que é preciso fazer para diminuir o impacto por aqui. Confira abaixo:

Entre Sabores: Quais são os impactos no setor da alimentação que os brasileiros vão sentir por conta da guerra Rússia x Ucrânia?

Davi Antunes: Os impactos serão, provavelmente, grandes. Quanto maior a duração da guerra, maiores serão as consequências. A Rússia é uma maiores produtoras e exportadoras de petróleo do mundo. Rússia e Ucrânia são dois dos maiores produtores de trigo do mundo.

Ou seja, preços muito importantes para a população brasileira. Os maiores efeitos que os brasileiros sentirão é a continuidade do aumento da inflação, que foi muito severa no ano passado. O pãozinho vai subir de preço. A gasolina também. E por causa da gasolina e do diesel, todos os outros preços da economia tendem a subir.

Apesar da valorização do câmbio, que tenderia a favorecer a queda dos preços, o petróleo já subiu muito mais.

Entre Sabores: Esses impactos devem chegar rápido à mesa dos brasileiros?

Davi Antunes: depende muito da Petrobras. Até pouco tempo atrás, toda subida do preço do petróleo era repassada para os preços da gasolina, do diesel, do gás. Chegamos a ter reajustes semanais.

Isso porque o governo Temer mudou o estatuto da Petrobras, que passou a ter que distribuir dividendos a qualquer custo, mesmo se tivesse prejuízo. Imagina com a subida do preço do petróleo: o lucro subiu para mais de R$ 106 bilhões no ano passado.
Agora, se a política é boa para o mercado financeiro, para a população é péssima. E altamente impopular. Por isso, o governo diz que não, mas está sim segurando os preços.

Entre Sabores: Que tipo de ação o governo brasileiro pode fazer para atenuar esse impacto?

Davi Antunes: A principal ação, que já deveria ter sido feita, era mudar a política da Petrobrás. A gente produz muito mais petróleo do que necessita. Só que não refina tudo que precisa. O certo era a Petrobrás investir em refino. Mas para que ela dê mais lucro mais rápido, não pode investir.

Então, exporta petróleo e importa derivados como gasolina, o que deixa o país mais dependente da variação do preço internacional.

É a mesma coisa com fertilizantes. A ministra da Agricultura estava reclamando disso. O Brasil fechou várias fábricas, porque importar era mais barato. Hoje, não é mais. Como disse a ministra, é um caso de segurança alimentar, de segurança nacional.

No curto prazo, a melhor alternativa parece ser segurar os repasses de preço, aguardando o que vai acontecer. Se o conflito se resolver logo, os preços tendem a ceder mais rápido. Se demorar mais, os repasses podem ser feitos de maneira escalonada, tal como o governo está fazendo com as tarifas de energia elétrica.

Foto: Canva

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