Desde que inventada em meados de 1842 pelo cervejeiro Josef Groll, na cidade de Plzeñ (atual República Tcheca), a receita da Pilsen conquistou o mundo e também sofreu grandes adaptações. A cerveja leve, de coloração dourada e bem carbonatada surgiu pela necessidade de uma cerveja de maior qualidade e durabilidade – e essa cerveja original, translúcida e de espuma cremosa, ainda é produzida pela Pilsner Urquell. Antes de falarmos sobre lúpulos e novidades, é preciso fazer um preâmbulo pelo estilo.
O que cria muita confusão é que muitas das cervejas comerciais que conhecemos são vendidas como Pilsen, mas na realidade são versões mais leves e geralmente com adjuntos. A cerveja Pilsen raíz leva malte de cevada, malte especial, levedura, lúpulo e água, enquanto que algumas comerciais usam malte de cevada, adjunto (milho e outros cereais), água e uma pequena parcela de lúpulo. Portanto, para uma cerveja ser considerada como uma verdadeira Pilsen, não deve usar cereais não-malteados.
Mas Pilsens também são Lagers? Para entender, é preciso revisitar a grande família cervejeira: as Ales (cervejas de alta fermentação, mais complexas), as Lagers (cervejas de baixa fermentação mais leves) e Lambics (cervejas de fermentação espontânea, tema já abordado aqui). Então, as verdadeiras Pilsens pertencem à família Lager.
Ao degustar uma clássica Pilsen (ou Pilsner), a sensação que você deverá sentir é de uma cerveja com amargor baixo a médio (entre 20 a 40 unidades de amargor, ou IBU), cremosidade da espuma, final seco e alta drincabilidade. A dica é tomar numa temperatura não tão gelada, quanto se costuma fazer aqui no Brasil, para que seja possível sentir sabores e aromas. Com o passar do tempo, surgiram algumas divisões no estilo.
Dito isto, é preciso celebrar o investimento que algumas cervejarias artesanais têm feito no intuito de resgatar a tradição do gosto por exemplares de qualidade. Para isso, alguns rótulos ousam na escolha dos lúpulos para a produção de hoppy lagers, India Pale Lagers e até mesmo uma Wheat Lager – esta última, uma receita com adição de coentro e cascas de laranja – todas produções da Cervejaria Avós, de São Paulo.
Novas possibilidades
Já ouviu falar em NZ Pils, ou New Zealand Pilsner? O estilo tem status de tendência e foi reconhecido pelo Beer Judge Certification Program (BJCP). Se trata de uma Pilsner feita com lúpulos da Nova Zelândia, como o Motueka, que confere o diferencial do aroma cítrico/frutado, lembrando o limão do Mojito, a uma receita tão tradicional. É um tipo de lager mais crocante, limpo e rico em nuances tropicais – o que traz uma sensível mudança às Pilsens já consagradas.
O lúpulo mais conhecido de lá é o Nelson Sauvin – uma das primeiras variedades daquela nacionalidade que remete a uvas verdes (por isso, o nome “Sauvin”). O país, que fica no sudoeste do Oceano Pacífico, investiu pesado para se tornar uma potência na produção de lúpulos e até agora tem tido sucesso na empreitada. Tanto que conseguiu quebrar a hegemonia de uso de lúpulos americanos e alemães e já são bastante usados pelos cervejeiros brasileiros.
No último mês, a Cervejaria Dogma se uniu ao know-how em lagers da Avós para produzir a Kiwi Pils, equilibrada Nz Pils feita com os lúpulos neozelandeses Motuere e Motueka, além da base tradicional de mates Vienna e Pilsen. O resultado é uma cerveja leve e refrescante, de 4,1% de teor alcoolico, com aroma de pão bem pronunciado. Outro exemplar brasileiro é a New Zealand Pilsner da Lohn Bier, que aposta em uma cerveja com aromas tropicais e leve no amargor.
Ficou curioso? Experimente essa Pilsen repaginada e me conte depois. Saúde!
* Letícia Cruz Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! Criadora do @cervejopedia no Instagram e da loja @cervejopedia.beershop, que fica em Santana, capital paulista.
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