Que a cerveja é feita com a fermentação de cereais, muita gente sabe. Mas a substituição da cevada pelo centeio, aveia ou pelo trigo faz bastante diferença no resultado final da cerveja. Não por acaso, estilos como Weiss e Witbier são famosas por seus aromas e sabores condimentados. E nada disso acontece por acaso.
As primeiras cervejas de trigo surgiram há mais de quatro mil anos, mas só foram aprimoradas por monges durante a Idade Média, na região da Bélgica. Como a bebida feita somente com o trigo tinha por vezes um dulçor ou azedume além da conta, os mestres cervejeiros buscavam nos condimentos o ponto de equilíbrio ideal para a cerveja.
Foi dessa alquimia que surgiram as Witbiers, que significa “cerveja branca” – cervejas claras, não filtradas, com baixo amargor e aromas acentuados que lembram o cravo, laranja ou canela. Ela é o tipo ideal para quem está adentrando timidamente o universo das cervejas artesanais, e por acaso também foi a minha. Foi graças à Hoegaarden, hoje uma cerveja até rotineira, que aprendi a apreciar sabores diferentes.
As Witbiers são preparadas geralmente com condimentos, como a semente de coentro e cascas de frutas cítricas como a laranja e limão. Há também opções clássicas com adição de frutas vermelhas, como a Blanche de Namur, uma Witbier Rosé com adição de framboesas. Possuem cores que variam do amarelo-palha ao dourado, sempre com boa formação e retenção de espuma. Fermentadas com leveduras Lager, são bem mais leves que suas primas, as Weiss (ou Weizenbiers).
O aroma de banana
Já as cervejas Weiss, em minha opinião, possuem uma personalidade mais marcante. Feliz integrante da família Ale, este estilo leva obrigatoriamente 50% de malte de trigo na receita. Sempre que penso nas Weizen, penso em fartura: são as cervejas que preenchem aqueles copos longos e sinuosos que beiram os 600 ml.
Também são as mais perfumadas e intrigantes. Graças aos ésteres do trigo que são liberados durante a fermentação, essa cerveja reserva aromas frutados de cravo e de banana. O nome do grande responsável pela “ilusão de ótica” é acetato de isoamila – não que você precise lembrar disso ao degustar uma boa Weiss.
Existe uma arte para o serviço. Não é somente firula quando o garçom presta algum malabarismo ao despejar a bebida num copo Weiss. É necessário preencher 3/4 do copo, e sacudir levemente a garrafa para que se aproveite a espuma cremosa da cerveja em sua plenitude. Agradeça ao trigo!
Weihenstephaner, a Weiss essencial
Ao adentrar o mundo das cervejas de trigo, não perca qualquer chance de provar a Weihenstephaner – de nome difícil, quase impossível de não gaguejar, mas incrível. Ela é, por acaso, a marca considerada mais antiga do mundo que ainda segue em produção. Foi fundada em 1040 por monges, na região de Munique, na Alemanha. Já precisou ser reconstruída algumas muitas vezes para se reerguer das dezenas de guerras que já testemunhou.
Para nossa sorte, é possível até mesmo conhecer e fazer tour guiado pelas dependências da Bayerische Staatbrauerei Weihenstephan (algo como Cervejaria da Baviera). É por lá que existe o maior acervo de amostras genéticas de leveduras do mundo.
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* Letícia Cruz Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! Criadora do @cervejopedia no Instagram e da loja @cervejopedia.beershop, que fica em Santana, capital paulista.
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