A Black IPA é uma cerveja que chama a atenção de quem a encontra: afinal, como pode uma IPA – que, nas suas variações mais comuns, apresenta uma coloração de âmbar ao palha – ser tão escura quanto uma Stout? O subestilo, que foi bem mais comum de encontrar em meados de 2010, acabou caindo no esquecimento das receitas nos últimos anos e, agora, retorna revigorada. Um retorno digno e justo, diria eu. Afinal de contas, os maltes tostados das IPAs escuras dão um charme merecido ao estilo.
O subestilo, que já foi chamado de American Dark Ale, Dark IPA e Cascadian Dark Ale, tem um quê histórico. Ainda em 1894, na Inglaterra, Frank Faulkner explicou no livro “The Theory and Practice of Brewing” sobre a Black Pale Ale (ainda que “pale” seja um enorme contrasenso quando falamos de cervejas escuras). A premissa da cerveja é sua alta carga de lupulagem, que a faz ter semelhanças com as American IPAs, aliado ao uso de maltes tostados sem amargor ou perfis de torra.
Foi produzida comercialmente pela primeira vez no início de 1990, com o rótulo “Blackwatch”, por Greg Noonan, nos Estados Unidos. A Beer Judge Certification Program (BJCP), que tanto abordo por aqui por ser um importante parâmetro para reconhecimento cervejeiro, incluiu o subestilo em 2015 no seu guia. Seguem suas impressões gerais: “O sabor de maltes mais escuros é suave e de apoio, não um componente de sabor a mais. A drinkability é uma característica chave”, crava o guia.
No aroma, a cerveja deve mostrar o lúpulo com perfis de frutas tropicais, herbais, resinosos, de pinho, e afins, dependendo do tipo de lúpulo utilizado na receita. Os maltes podem conferir um certo dulçor, com notas duaves de café ou chocolate. Na boca, a Black IPA dá uma sensação macia, levemente resinosa, com corpo médio a baixo. Tem retrogosto, mas não deve permanecer por muito tempo. Deve ter um amargor médio a alto (50 a 90 IBUs, unidade de amargor), e um teor alcoólico que varia de 5% a 9%.
Aqui no Brasil, a primeira cervejaria que apostou no subestilo foi a mineira Kud, com o rótulo “Blackbird”, em 2012. A primeira Black IPA que provei foi a Black Cat, da Cervejaria Invicta, bem fácil de encontrar até hoje nas prateleiras empórios afora. Ainda que de alguns anos pra cá a produção de novos exemplares da variação tenha se desvanecido, dezembro do ano passado foi marcante pela volta de lançamentos.
A Cia. de Brassagem Brasil, cervejaria que dá voz às causas da biodiversidade brasileira, lançou recentemente a Onça Preta, uma Black IPA com 6,5% de teor alcoólico e 72 IBUs. Os lúpulos escolhidos foram os americanos Citra e Amarillo, que trazem limão e maracujá no blend com os maltes tostados. A Colorada começou o ano com um rótulo que homenageia o estilo, a Brasil com S nº 18, a versão Black da famosa Indica, com adição de rapadura. De acordo com a cervejaria, a rapadura realça o toque de caramelo, em consonância com os maltes tostados e notas cítricas.
E você tem curiosidade em experimentar essa variação, ou já degustou? Me conta nos comentários. Saúde!
* Letícia Cruz Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! Criadora do @cervejopedia no Instagram e da loja @cervejopedia.beershop, que fica em Santana, capital paulista.
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