*Por Lalá Ruiz
De origem francesa, as uvas Tannat e Malbec se tornaram símbolos inquestionáveis do vinho sul-americano. Sua importância para o desenvolvimento da vitivinicultura no continente é tamanha que as duas cepas têm seus próprios dias – enquanto o Dia da Tannat, variedade que deu fama aos vinhos uruguaios, é celebrado em 14 de abril, o Dia Internacional da Malbec, uva que é sinônimo de vinho argentino, é comemorado em 17 de abril.
O Dia da Tannat foi instituído no Uruguai pelo Instituto Nacional de Vitivinicultura (Inavi) para homenagear Pascual Harriague, empresário francês responsável pela introdução da variedade no país – ele morreu em 14 de abril de 1894.
Já o Dia Internacional da Malbec foi criado pela organização Wines of Argentina, dedicada à divulgação do vinho argentino, porque foi no dia 17 de abril de 1853, mesmo ano da chegada da cepa à Argentina, que foi apresentado pelo governo o projeto que resultou na fundação da Escola de Agricultura de Mendoza.
Embora os dois países produzam vinhos de excelente qualidade com outras uvas, a Tannat e a Malbec predominam entre os rótulos premiados e reconhecidos internacionalmente. Um exemplo: tanto o top 10 dos tintos uruguaios quanto o dos argentinos constantes no Guia Descorchados 2023, a mais importante publicação sobre o vinho da América do Sul, são dominados, justamente, por essas variedades.
Dos dez vinhos uruguaios mais bem pontuados no Descorchados, cinco são 100% Tannat e dois têm a Tannat no blend – um não especifica as uvas utilizadas na mistura, portanto, a presença ou não da Tannat é uma incógnita. No caso dos dez mais da Argentina, o domínio é quase total: nove são 100% Malbec e um tem a uva na sua composição.
Confira o ranking do Descorchados 2023:
Você conhece o Guia Descorchados?
O Guia Descorchados foi criado pelo chileno Patricio Tapia e foi publicado pela primeira vez em 1999. Naquela época, a cena chilena começava a despertar e o guia retratava aquele momento. Para a publicação do primeiro Descorchados, foram provados cerca de 600 vinhos, todos chilenos. Atualmente, o guia cobre também vinhos da Argentina, Brasil e Uruguai, os quatro principais países produtores de vinho da América do Sul.
Na edição de 2023, foram degustados mais de 4 mil vinhos provenientes de 230 vinícolas argentinas, 223 chilenas, 35 vinícolas uruguaias e 35 brasileiras. Uma novidade deste ano é que o guia apresenta e avalia vinícolas do Peru e Bolívia.
A pontuação dada pelo Descorchados segue o sistema de 50 a 100 pontos criado pelo crítico norte-americano de vinhos Robert Parker. Num primeiro momento, os avaliadores se reúnem com produtores dos países contemplados para conhecer a história dos vinhos e com degustação aberta. Os melhores vinhos são selecionados para uma degustação às cegas, que ocorre sem a presença do produtor e com quase nada de informação sobre a garrafa – geralmente, constam apenas a origem e a uva apenas.
Os vinhos são pontuados seguindo a seguinte classificação:
- 80 a 85 pontos: vinhos para o consumo cotidiano, descomplicados
- 86 a 90 pontos: vinhos também do cotidiano, mas com maior complexidade
- 91 a 95 pontos: vinhos excelentes que merecem ser degustados
- 96 a 100 pontos: vinhos que estão perto da perfeição
Um brinde aos vinhos Tannat e Malbec!
EM TEMPO
“Eu gosto sobre a mesa quando falamos, a luz de uma garrafa de vinho inteligente.”
Pablo Neruda, político e poeta chileno (1904-1973)
*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.
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