É tempo de canjica! Mas de onde ela veio afinal?

É só junho chegar que logo vem na mente aqueles doces leitosos e cremosos, pra comer quente ou frio. Caso da canjica, que em alguns lugares do Brasil também é chamado Mugunzá.

Considerado prato “tradicional, indispensável e típico nas festas de São João”, pelo renomado folclorista Luís da Câmara Cascudo (Dicionário do Folclore Brasileiro), a preparação nada mais é do que uma “sopa de milho branco cozido com leite de coco, cravo, canela e açúcar”, segundo a jornalista Roberta Malta Saldanha (História, Lendas e Curiosidades da Gastronomia).

Variações na forma de preparo não faltam, mas o assunto em questão aqui é outro: seria a canjica um prato típico brasileiro?

Segundo Francisco José Alves, doutor em História Social, mestre em Antropologia e professor do Departamento de História/UFS (Universidade Federal do Sergipe), em seu artigo “O enigma da Canjica”, a iguaria pode ter se originado “em três distintos pontos da geografia: no Brasil; na África (Angola/Congo) e na Índia (Goa)”.

Para tal afirmação ele buscou etimólogos e suas definições para o termo em questão e encontrou tantas controvérsias, que fazem a origem da delícia permanecer uma incógnita.

Enquanto o sociólogo Gilberto Freyre (Casa grande e senzala), define que é um prato nativo feito por índios tupinambás – como moqueca, paçoca e beiju, por exemplo – há quem considere que o termo veio importado da África junto com os escravos.

É o caso de Nei Lopes (Novo Dicionário Banto do Brasil), que diz que canjica é uma metamorfose de “Kanzika” (papa grossa de milho cozido), palavra em quicongo, língua falada no Congo e Angola. Aliás, outros autores defendem essa teoria.

Há ainda a terceira opinião: a de que canjica é uma palavra portuguesa, derivada de canja, que vem de Kanji, termo da língua malaiala falada na região de Malabar, sudoeste da Índia e que significa “arroz com água”. A defesa da origem asiática da canjica é feita pelo filólogo Antonio Geraldo da Cunha (Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa).

Essa vertente faz muito sentido mesmo, principalmente se for levada em consideração os ingredientes comumente usados no doce: cravo e canela, especiarias que chegaram ao Brasil pelo porto da Bahia vindas da Índia, a partir do século 16.

Seja qual for a origem do doce, ele é um dos símbolos da cultura brasileira, formada que traz tantas misturas, vindas de tantos lugares. É tempo de canjica! É tempo de São João!