Vinho litúrgico: direto da missa para a mesa

Por Lalá Ruiz*

Muita gente duvida, mas, sim: o vinho bebido pelo padre na missa, no momento da celebração do sacramento da Eucaristia, é de verdade. Porém, por simbolizar o sangue de Jesus Cristo derramado na cruz, não é uma bebida qualquer. Muito pelo contrário.

Chamado de canônico ou litúrgico, o “vinho do padre”, a exemplo da hóstia, é produzido para ser utilizado na liturgia católica, tanto Romana quanto Ortodoxa, seguindo as determinações do Código de Direito Canônico, nesse caso, em seu cânon 924, parágrafo 3.

Diz o texto:

“O vinho que se utiliza na celebração do santo sacrifício eucarístico deve ser natural, do fruto da videira, puro e dentro da validade, sem mistura de substâncias estranhas. Na mesma celebração da missa se lhe deve misturar um pouco d’água. Tenha-se diligente cuidado de que o vinho destinado à Eucaristia se conserve em perfeito estado de validade e não se avinagre. Está totalmente proibido utilizar um vinho de quem se tem dúvida quanto ao seu caráter genuíno ou à sua procedência, pois a Igreja exige certeza sobre as condições necessárias para a validade dos sacramentos. Não se deve admitir sob nenhum pretexto outras bebidas de qualquer gênero, que não constituem uma matéria válida.”

Na prática, o vinho litúrgico se difere dos demais por ser licoroso, portanto adocicado, e por possuir teor alcoólico muito elevado, com graduação até 10% superior à média. Esses fatores são fundamentais para a conservação da bebida, já que a mesma é consumida em pouca quantidade durante as celebrações.

As variedades usadas na elaboração podem ser viníferas ou mesmo uvas híbridas americanas. No Brasil, por exemplo, as cepas mais utilizadas são a Moscato e a Isabel, sendo que o Rio Grande do Sul concentra 90% desse mercado, com 500 mil litros vendidos ao ano – 300 mil são provenientes da Vinícola Salton, que atua no segmento de vinho canônico desde 1940.

Vinho Canônico da Salton (Foto: Divulgação)

A boa notícia para os curiosos é que o vinho litúrgico não é feito exclusivamente para consumo da Igreja Católica. Pessoas comuns como eu você também podem comprar essa bebida “sagrada” para servi-la como aperitivo ou mesmo harmonizá-la com sobremesas, em especial com compotas e tortas.

Esse vinho é vendido tanto em sites especializados em artigos para missas como em e-commerces regulares. Os preços variam de acordo com a marca e/ou loja. O Salton Canônico, por exemplo, pode ser encontrado por valores que vão de R$ 24,90 (site Meu Vinho) a R$ 58,21 (Amazon). Já o Vinho Litúrgico da Casa Geraldo custa R$ 40,00 no próprio site da vinícola de Andradas, Minas Gerais.

Para quem gosta de vinho com história, na Fábrica de Hóstias é possível comprar, entre outros rótulos, o Vinho Canônico Italiano Santa Messa, da Vinícola Martinez, produzido desde 1866 com autorização da Diocese de Mazaro del Vallo, pertencente à Arquidiocese de Palermo, na Sicília. Preço: R$ 36,90.

Uma curiosidade: existem opções sem álcool! Nesse caso, o vinho passa por um processo de fermentação, envelhecimento e desalcoolização que preserva as características da bebida, deixando-a com sabor semelhante ao original com álcool. Entre as vinícolas que atuam nesse nicho está a La Dorni, com sede no Paraná.

EM TEMPO

Dia 17 de abril de 2022 é Domingo de Páscoa e também o Dia Mundial do Malbec. Trata-se de uma data comemorativa criada em 2011 pela Wines of Argentina, uma entidade dedicada ao fomento e à divulgação dos vinhos produzidos no país vizinho. Originária do sul da França, onde é cultivada desde o ano 150 d.C., a uva Malbec tornou-se o símbolo do vinho argentino. Um brinde ao Malbec!

17 de abril é o Dia Mundial do Malbec (Foto: Canva)
*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.

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