Por Letícia Cruz*
Se você perguntar a alguém o que é uma cerveja Grisette, poucas pessoas saberão responder. Pudera. Até muito pouco tempo, elas não eram exploradas para produção nem em cervejarias mais experimentais, muito menos rótulos chegavam às prateleiras no Brasil. A pessoa que vos fala, por exemplo, só degustou há pouco tempo, aliás. Mas, pasmem, é um estilo bastante injustiçado porque carrega um valor histórico enorme, mais especificamente ligado ao início da Revolução Industrial.
Mas o que são as Grisette?
São, basicamente, cervejas de teor alcoolico baixo (entre 3% e 5%), amargor também baixo, produzidas com malte de trigo. Não filtradas, têm certa turbidez e uma coloração amarelo vivo a amarelo palha. Sua principal característica é ser uma cerveja bem fácil de beber e refrescante. E aqui entramos em como ela surgiu e como ganhou notoriedade.
Segundo registros históricos, essas cervejas eram fabricadas para o consumo da crescente população de trabalhadores de mineração do Sul da Bélgica, na província de Hainaut, no início do século XX. Quanto menos amargor e álcool, melhor naquele contexto. De acordo com historiadores, como eram cervejas novas, ou seja, que não tinham necessidade de envelhecer, eram responsáveis por lucros por conta da produção em escala. Os jovens mineiros eram os principais consumidores.
Aliás, foi nessa região belga que surgiram as Saison, tipo de cerveja com características semelhantes e hoje muito mais conhecidas mundialmente. Aqui vai um paralelo com a Saison, que tem uma raiz ligada à prática agrícola: a cerveja estilo Grisette preza em sua receita mais pelos lúpulos do que pela acidez, característica da Saison.
A modernização dos maquinários nas cervejarias influenciou bastante a produção das cervejas mais produzidas na região até então, o que pode explicar mudanças nas receitas de Grisette que eram feitas antigamente. Com a falta de informações precisas da época, talvez nunca saberemos o motivo de o estilo ter sido preterido.
Para a alegria dos curiosos, essa cerveja resiste – e alguns rótulos estão bem próximos de nós brasileiros! Falando sobre referências, uma das cervejas do estilo Grisette mais conhecidas é produzida pela Brasserie Saint-Feuillien. Além das cervejas de abadia (como as Dubel, Tripel e Strong Ales), produz a Grisette Witbier e Blonde. Cervejarias artesanais brasileiras, como a Dádiva e Bodebrown, também já deram sua contribuição ao estilo, com a Fortune Ink e Biére de Table, respectivamente.
Essa cerveja bonita que ilustra hoje a coluna é uma Grisette nacional, produzida pela Vintage Craft Beer de Porto Alegre (RS). De nome bem propício, a Fresh Beer é retrô sim, e com adição de suco de maracujá para refrescar ainda mais. Uma boa pedida para matar a sede e relaxar depois de um dia difícil de trabalho!
Já conhecia esse estilo? Se você tiver curiosidade sobre algum tipo de cerveja bem diferente, registre aqui nos comentários que vamos descobrir juntos!
Saúde!
* Letícia Cruz Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! Criadora do @cervejopedia no Instagram.
No Replies to "Grisette: a cerveja que matava a sede dos mineiros belgas"