Três vinícolas para visitar quando a pandemia passar e o dólar permitir

Seleção que inclui bodegas da Argentina, Chile e Uruguai leva em consideração critérios muito pessoais, incluindo sentimentais

Por Lalá Ruiz*

Listas: tem como não fazê-las? Eu já fiz várias: de países a visitar, de livros que preciso ler, de filmes para assistir. Uma delas contém três vinícolas da América do Sul que quero conhecer por razões diversas. Quando a pandemia e o valor do dólar permitirem, meu objetivo é tirar essa lista do papel. Segue o meu “Top 3”:

  1. TEMPUS ALBA (Mendoza, Argentina)

No ano passado, participei de uma degustação com alguns rótulos da Tempus Alba. Gostei bastante e, desde então, tenho vontade de tomar esses vinhos in loco, principalmente porque ainda não conheço a região de Mendoza.

Essa pequena bodega tem uma produção anual de 250 mil garrafas e é administrada pela quinta geração da família Biondolillo. Produz bons vinhos a partir das cepas Cabernet Sauvignon, Malbec, Tempranillo e Sangiovese, provenientes de vinhedos próprios. Como se não bastasse, frequentemente é listada como uma das mais bonitas da América do Sul.

Possui boa infraestrutura de enoturismo, o que inclui visitas guiadas privadas (suspensas no momento) e tours gratuitos autoguiados. Conta ainda com restaurante (o Patio Tempus, que funciona para almoço e somente com reserva) e winebar (com vista para a Cordilheira dos Andes). Ou seja: pede para ser visitada. 

  1. UNDURRAGA (Talagante, Chile)

Localizada a 34 quilômetros de Santiago, a Undurraga está entre as mais visitadas pelos brasileiros no Chile. Fundada em 1885 por Francisco Undurraga Vicuña, tem uma história bem curiosa. Consta que Francisco montou os tonéis com os quais iniciou a empresa com madeira comprada do exército chileno, madeira esta usada para embalar armas na Guerra do Pacífico (1879-1883) – por acaso, era carvalho vindo da Bósnia.

Quero conhecê-la por uma questão muito sentimental. Meu irmão mais novo, Affonso, falecido em 2019, era apaixonado pelo Chile. Sempre que viajou ao país andino, ele visitou a Undurraga. Dizia que gostava de pegar um transporte público e ir de Santiago até a vinícola, degustar uns rótulos e voltar com algumas garrafas na mochila.

Aliás, foi graças a ele que experimentei um Undurraga pela primeira vez (ele me deu uma garrafa de presente depois da sua primeira viagem ao Chile). Para mim, é impossível não me lembrar do querido Affonsinho (sim, era assim que o chamávamos, pois tinha o mesmo nome do meu pai) quando vejo um vinho Undurraga.

  1. PIZZORNO FAMILY ESTATES (Canelones, Uruguai)

Se meu irmão era apaixonado pelo Chile, eu sou apaixonada pelo Uruguai, país que visitei duas vezes e voltaria muitas e muitas vezes. Minha primeira viagem foi profissional, uma press trip com foco em Punta del Este e arredores. A segunda, de férias, foi um tour por Montevidéu e Colônia de Sacramento, além de um passeio por Piriápolis e Punta.

Ainda não conheço Canelones, que responde por 62% da produção de vinhos no país. E penso que a experiência de explorar essa região tão significativa tem que ser completa, ou seja, nada de bate-volta de Montevidéu – Canelones fica a 50 quilômetros da capital uruguaia.

Nesse sentido, considero a vinícola Pizzorno Family Estates uma excelente opção. Fundada em 1910, a bodega transformou a antiga casa da família Pizzorno em uma pequena pousada com apenas quatro quartos. A ideia é passar um fim de semana na vinícola, em meio à natureza, com boa gastronomia e, claro, vinhos e mais vinhos.

Quem vai comigo?

MAIS INFORMAÇÕES

Para saber mais sobre essas vinícolas, basta acessar os seguintes sites:

Tempus Alba: www.tempusalba.com

Undurraga: www.undurraga.cl

Pizzorno Family Estates: www.pizzornowines.com

EM TEMPO

Na região de Punta del Este, visitei por duas vezes a Casapueblo, um lugar encantador que é palco de uma saudação ao Sol todos os dias, no final da tarde. Pois essa casa-museu-hotel foi construída pelo artista plástico, escritor e compositor Carlos Páez Vilaró (1923-2014). Dizem que ela foi a inspiração para a música A Casa, de Vinicius de Moraes. Agora, maravilhosa mesmo é a história de Vilaró se seu filho, Carlos. Carlitos, como era chamado, integrava o time de rugbi que estava no avião que caiu nos Andes em 13 de outubro de 1972 com 45 pessoas a bordo – 16 sobreviveram e tiveram sua história contada em livros e filmes. O grupo só foi encontrado pela insistência de Vilaró, que foi a uma vidente que garantiu a ele que o filho estava vivo – os dois só se reencontraram no dia 23 de dezembro. Na minha primeira viagem ao Uruguai, esbarrei com o artista no cassino do hotel onde estava hospedada. Na segunda, Vilaró já estava em outro plano, mas os gatos que ele tanto amava circulavam como reis entre os turistas em visita à Casapueblo. Um brinde, Vilaró.

*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.

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