Bebendo em casa: a relação do brasileiro com a cerveja mudou?

Começo a coluna com uma pergunta ao leitor: como está sua dinâmica de beber cerveja desde que o mundo virou de cabeça pra baixo na pandemia? Entre idas e vindas na flexibilização do funcionamento de bares e comércio, o fato é que o hábito de quem consome cerveja artesanal mudou. Há quem mesmo assim frequente bares, que apostam na sanitização de seus salões como medida de segurança, mas o inegável crescimento do delivery mostra que o brasileiro está dando preferência a beber dentro de casa.

O brasileiro ocupa hoje o terceiro lugar no ranking dos países que mais consomem cerveja – fica atrás apenas dos Estados Unidos e da China. O medo de contrair a covid-19 transformou o que era somente uma tendência em hábito e, por necessidade de sobrevivência, cervejarias têm consolidado suas lojas virtuais e delivery rápido. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o consumo nos estabelecimentos caiu 34,2% após a imposição de medidas de restrição. 

O consumo migrou para os lares, como mostra dados da Kantar: segundo pesquisa, o percentual de brasileiros que beberam cerveja dentro de casa saltou para 68,6% em 2020, ante 64,6% no ano anterior. Ou seja, as pessoas tendem a beber mais no isolamento (o famoso “beber para esquecer”). E a previsão é que a venda de cerveja no Brasil aumente ainda mais este ano. A Euromonitor International projeta que em 2021 sejam comercializados 13,67 bilhões de litros, número que só perde para os 13,80 bi de litros consumidos no ano da Copa do Mundo no Brasil, em 2014.


Adaptação das Microcervejarias

A pandemia afetou até mesmo a realização de eventos cervejeiros que movimentam bastante o mercado, lançando novidades e ajudando no faturamento de microcervejarias em exposição. Eventos como o IPA Day foram adiados no ano passado, e tudo leva a crer que não ocorrerão em 2021, visto que o país ainda enfrenta uma situação sanitária bastante complicada e instável. Já a Oktoberfest São Paulo, por incrível que pareça, vende ingressos para o evento marcado para a segunda quinzena de setembro. Na Alemanha, berço da festa, o evento foi cancelado pelo segundo ano consecutivo.
Tentando se sobrepor às adversidades, microcervejarias artesanais têm se reinventado e buscam soluções para a crise. Esse período de adaptação passa, além da ampliação do delivery e da aproximação com o cliente, pela inserção de rótulos nas prateleiras de supermercados e tentativa de redução de preços ao consumidor final. Outra medida é agregar valor à cerveja produzindo rótulos comemorativos, ou até mesmo menus completos de degustação. Um exemplo é a Cervejaria Tarantino, de São Paulo, que desde o ano passado oferece menu gastronômico de harmonização em datas como o Dia dos Namorados ou o Réveillon. 
Nas tap houses, a diversificação do cardápio entre cervejas mais em conta, que precisam de pouco tempo de produção, entre as maturadas (mais caras), foi uma aposta certeira para ser mais convidativo à clientela online. Outras cervejarias criaram rótulos experimentais, caso da Hocus Pocus (RJ) e da Dama Bier, de Piracicaba (SP). A primeira lançou joias como a “Quarantine Elixir #10”, uma Coconut Light Mead com mel de flor de laranjeira e coco queimado. Com a “Dama Lab”, a Dama uniu aveia e café numa Golden Ale. Apesar dos pesares, a crise instigou cervejeiros à criatividade.

Beber cerveja artesanal em casa é outro sinal de que a cerveja do futuro (que rende assunto para outro post) será cada vez mais fresca e local. Afinal, nunca se viu tantos growlers indo e vindo! Procure pelas cervejarias, brewpubs ou bares que entregam na sua região e ajude um negócio a continuar de portas abertas. O que nos resta fazer é continuar com as devidas precauções, dar a preferência a curtir dentro de casa, aguardar que a vacina chegue para todos o mais rápido para que, enfim, voltemos a mudar de cenário e descobrir novos bares sem medo de ser feliz.

Algumas dicas do recebimento do delivery até o momento de servir a cerveja:

– Como erros sempre acontecem, procure conferir se a cerveja que chegou é a mesma que você pediu. Afinal, valores variam bastante entre os estilos. Caso exista divergência, entre em contato com o bar.  

– O chope que chega nas garrafas growler pet, uma vez abertas, precisam ser consumidas imediatamente. Caso você opte por guardar, elas conservam em média por 5 dias no refrigerador. Aliás, sempre guarde a garrafa em pé!- Ao servir, preste atenção na carbonatação da cerveja (ela apresenta ou não espuma?). Cervejas com pouca carbonatação, dependendo do estilo, podem ter tido algum problema na pressão ou transporte.

– Procure utilizar copos condizentes ao estilo que você está bebendo para não perder a experiência sensorial, e aproveite!

Saúde!

* Letícia Cruz 
Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! 
Criadora do @cervejopedia no Instagram.

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