Ao contrário do que muitos imaginam, cerveja artesanal no Brasil não é coisa nova, e muito menos uma “febre” passageira. Aliás, há um amplo e polêmico debate sobre o que é realmente artesanal em tempos de produção acelerada de cerveja, quase que em ritmo industrial. Mas esse é um papo para outra mesa de bar (fica a provocação!).
Fato é que quando falamos em cerveja artesanal brasileira costumamos ouvir um nome em especial: Rupprecht Loeffler, um personagem importantíssimo e valioso para essa história. Falecido aos 93 anos em 2011, após uma vida dedicada à produção de cervejas artesanais, é homenageado pelos apreciadores cervejeiros que mantêm vivo o seu legado dedicando o dia 5 de junho, data de seu nascimento, ao Dia da Cerveja Brasileira. Loeffler, ou seu Loffa, era filho de Otto Loefller, imigrante alemão que adquiriu nos anos 1920 a Cervejaria Canoinhense, batizada em homenagem à cidade de Canoinhas, Santa Catarina.
Em pleno funcionamento desde 1908 e fundada sob o nome de Ouro Verde, a Canoinhense segue produzindo cerveja com os as receitas de gerações e seguindo a Lei de Pureza Alemã, a Reinheitsgebot – que instituiu 1516 o uso de apenas água, malte de cevada e lúpulo na produção, tendo atualizações ao longo dos anos que permitiram por exemplo o uso de maltes de outros cereais e leveduras (que não eram conhecidas à epoca da lei). Alguns equipamentos da fabricação da época da sua fundação ainda continuam na ativa, inclusive. Os tonéis de carvalho do local vieram há mais de 100 anos da Alemanha.
Quem toca a cervejaria após a morte de Rupprecht é sua companheira de uma longa jornada de 65 anos, dona Gerda. Ela continua recebendo os visitantes mais entusiastas da cerveja. No local, são produzidos à moda antiga os rótulos Mocinha, Bock Porter, Nó de Pinho e Jahu – o exemplar mais amargo entre eles. No documentário curta-metragem “Cerveja Falada”, dirigido por Demétrio Panarotto, Guto Lima e Luiz Henrique Cudo, o próprio senhor Loeffler fala em primeira pessoa, já com seus 93 anos de estrada e ainda ativo para atender a freguesia e cuidando da produção da cervejaria. No registro, ele conta passagens de sua infância e da vivência com seu pai, de quem herdou inspiração para trilhar o rumo cervejeiro.
“O pai (senhor Otto) trouxe a fórmula (das cervejas) de Munique, conforme eles fazem lá nós fazemos aqui também. É o mesmo gosto”, lembrou. Vale assistir e ouvir as palavras da boca do próprio mestre-cervejeiro. Desde os tempos da gestão do patriarca dos Loeffler, as cervejas por lá são feitas de modo rústico, com brassagem à lenha, resfriamento do mosto por meio de uso do ventilador, fermentação em tanque aberto e envasamento à mão.
Quem procura uma viagem cervejeira após a pandemia, é definitivamente um local obrigatório. Eu, inclusive, já tenho anotado o endereço. A cervejaria conta com um charmoso Biergarten (jardim de cerveja) para degustar os rótulos ao ar livre, além de oferecer a possibilidade de conhecer a fábrica e a história da cervejaria.
Clique aqui para saber mais sobre funcionamento.
Saúde!
* Letícia Cruz Uma jornalista curiosa pelo mundo das cervejas compartilhando suas descobertas. Entusiasta da cerveja viva e local. Apaixonada pelos lúpulos! Criadora do @cervejopedia no Instagram e da loja @cervejopedia.beershop, que fica em Santana, capital paulista.
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