A mulher que revolucionou a produção de vinho no Douro

There is nothing to show here!
Slider with alias none not found.

Por Lalá Ruiz*

O Alto Douro Vinhateiro, ou simplesmente Douro, é uma das mais famosas regiões produtoras de vinho de Portugal. Por lá, a bebida é produzida há pelo menos 2 mil anos. Famoso pelo Vinho do Porto, ganhou esse nome devido ao rio Douro que atravessa a região em direção ao Oceano Atlântico, rio este, aliás, que nasce na Ribera del Duero, na Espanha.

Trata-se de uma das áreas com denominação de origem mais antigas de que se tem notícia, demarcação esta feita em 1756 pelo Marquês de Pombal com o alvará do Rei Dom José I. Seus vinhedos, inclusive, foram classificados, em 2001, como Patrimônio Mundial pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

A região do Douro, em Portugal (Foto: Canva)

O que muita gente não sabe é que, se hoje o Douro representa o que o vinho português tem de melhor, muito se deve a Dona Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896), a Ferreirinha, empresária e visionária nascida e criada em Peso da Régua que mudou a produção de vinho na região ao assumir o negócio da família após a morte precoce do marido, um primo com quem se casou a mando do pai e que gastou boa parte da fortuna dos Ferreira.

Com o apoio do administrador José da Silva Torres, que viria a se tornar seu segundo marido, ela enfrentou durante muito tempo a falta de apoio do governo português, que preferia abrir estradas e comprar vinhos espanhóis a incentivar a produção local.

Entre as muitas ações que desenvolveu em prol do Douro, Dona Antónia viajou para a Inglaterra com o objetivo de aprender sobre os métodos modernos de combate à praga da filoxera, um inseto capaz de exterminar vinhedos inteiros e que, à época, representava uma ameaça real às plantações. Lá, ela também estudou processos sofisticados de produção do vinho.

Some-se a isso o fato de Ferreirinha ter sido uma empresária preocupada com a situação das famílias dos trabalhadores em suas propriedades, o que lhe valeu a alcunha de “mãe dos pobres”. Como consequência do “conjunto da obra”, a Casa Ferreirinha cresceu em tamanho e reputação, tornando-se uma referência quando o assunto são os vinhos do Douro.

Dona Antónia morreu em 26 de março de 1896, aos 85 anos. Reportagem sobre seu funeral, publicada pelo jornal O Primeiro de Janeiro, relata que o percurso de quatro quilômetros do cortejo fúnebre, entre a Quinta da Nogueira e a Igreja da Régua, foi assistido por cerca de 300 mil habitantes do Douro, que ajoelharam-se na beira da estrada saudando, justamente, a “mãe dos pobres”.

Barca Velha: 100 pontos na Wine Enthusiast

A Casa Ferreirinha hoje

Desde 1987, a Casa Ferreirinha é de propriedade da Sograpre, maior empresa produtora de vinhos de Portugal que é detentora, também, de marcas populares como Mateus e Sandeman, além de possuir vinícolas na Espanha e na Nova Zelândia.

Entre os rótulos produzidos pela Casa Ferreirinha estão o icônico Barca Velha, o primeiro vinho tranquilo de alta qualidade do Douro e o primeiro tinto português a conquistar 100 pontos na revista Wine Enthusiast; e o celebrado D. Antónia Adelaide Ferreira, lançado pela primeira vez em 2011 para celebrar os 200 anos do nascimento de Ferreirinha – a garrafa da recém-lançada safra 2016 custa R$ 2.062,00 na importadora Zahil.

Rótulo dedicado à Dona Antônia

Um brinde à Dona Antónia e à Casa Ferreirinha!

EM TEMPO

A região do Douro tem como características climáticas os verões quentes e os invernos rigorosos. As encostas íngremes ao longo do rio Douro e seus afluentes foram moldadas para conter a erosão do solo, composto de xisto, ou “lousa”, como é chamado em Portugal. As principais variedades de uvas cultivadas na região são Touriga Franca (antiga Tinta Francesa), Touriga Nacional, Tinta Roriz, Viosinho e Rabigato.

*Lalá Ruiz é jornalista formada pela PUC-Campinas. Trabalhou no extinto jornal Diário do Povo e no Correio Popular, ambos de Campinas (SP). Gosta de rock, blues, jazz, Clube da Esquina, pop latino, flamenco, literatura, televisão e cinema. É torcedora do Santos F.C. e criadora do IG @oassuntoevinho.

No Replies to "A mulher que revolucionou a produção de vinho no Douro"

    Leave a reply

    Your email address will not be published.