Seja como for, aos poucos, a receita foi sendo aperfeiçoada. No palácio de Versalhes, pertencente à rainha Marie (filha de Stanislas), o bolo passou a ser regado com calda feita daquele mesmo vinho de Málaga – só que, agora, misturado com açúcar e açafrão. O restante da calda era posta em molheira, junto ao bolo, para que os comensais dela se servissem segundo seus gostos. “Na casa dos descendentes do bondoso rei o serviço das babas vem sempre acompanhado de uma molheira”, segundo Carême (1784-1833) – considerado “o rei dos cozinheiros e o cozinheiro dos reis”. Faltando só lembrar que essa rainha Marie, por conta de seus conhecidos excessos gastronômicos, chegou inclusive a receber extrema unção no dia em que praticou o doce pecado mortal da gula – ao degustar, de uma só vez, muitas dúzias de ostras. E tanto apreciava os bons pratos, dita rainha, que contratou para seus serviços o grande Vicent la Chapelle (1690-1745), antigo cozinheiro de muita gente famosa, inclusive Madame Pompadour – mesmo tendo sido essa madame amante de seu marido, o rei Luis XV. Mas essa é outra história.
Depois Nicolas Stohrer, confeiteiro de Lorena que trabalhou na cozinha do rei Stanislas, deu ao bolo sua receita definitiva: substituindo a massa pesada do kugelhopf, por outra mais leve e menos amanteigada; o vinho de Málaga, por rum; ainda acrescentando frutas e chantilly. A partir daí, recebeu o nome que até hoje tem – baba au rhun. Unindo o agradável ao útil, passou a vendê-lo (em 1730), na sua própria patisserie – rue Montorgueil 51, Paris. O lugar ainda existe com os painéis originais do pintor Paul Baudry (1828-1886), o mesmo que fez o foyer da Ópera de Paris, a Ópera Garnier – com nome em homenagem a Charles Garnier (1825-1898), arquiteto que a projetou.
Por seu sabor muito especial, foi a sobremesa escolhida por Babette (antiga chefe do Café Anglais, um dos mais importantes restaurantes de Paris – de1802 a1913), no banquete por ela preparado em “A Festa de Babette” – Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1988. Pena que Hollywood só se preocupe com filmes; que, se o Oscar fosse dado também às sobremesas, esse Baba au Rhum seria candidato certo à estatueta.
Confira a receita!
Ingredientes
3 colheres de chá de açúcar
¼ de xícara de água quente
15 g de fermento seco
3 colheres de sopa de leite
60 g de manteiga
125 g de farinha de trigo
2 ovos
3 pitadas de sal
Para a calda
200 g de açúcar
1 ½ xícara de água
6 colheres de sopa de rum
Modo de Preparo
Em recipiente, coloque uma colher de chá de açúcar, água quente, fermento e deixe descansar, em lugar abafado, por 10 minutos.
Bata a manteiga até ficar cremosa. Aqueça o leite. Coloque a farinha em recipiente e faça um buraco no centro. Nesse buraco coloque ovos, sal, o restante do açúcar e a mistura de fermento. Mistura tudo. Junte a manteiga, mexa de novo e amasse tudo até obter uma massa lisa e elástica.
Coloque a massa em fôrma de buraco (24 cm), untada com manteiga. Tape com pano e deixe crescer até ao nível da borda da fôrma, por aproximadamente uma hora. Leve ao forno pré aquecido (200º C) por 25 minutos. Quando estiver assado, fure e junte a calda até que fique bem embebido. Leve à geladeira e sirva com creme chantilly.- Prepare a calda: leve ao fogo açúcar e água e deixe ferver. Retire do fogo e junte o rum.
Por Mokrane Kahlal
Consultor em Gastronomia, chef na Casa Fagundes em Caxias do Sul (RS) e Professor em Gastronomia Árabe e Mediterrânea na empresa UCS Oficial. Também tem um livro publicado “Cozinha brasileita e italiana”, em parceria com outros dois chefs.
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