Doces para celebrar o dia de reis

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Em 6 de janeiro é celebrado o dia de Reis, que homenageia a chegada dos Três Reis Magos, Baltazar, Belchior e Gaspar, para conhecer o menino Jesus. Nesta data um hábito surgiu, o de consumir bolos e doces. Quem conta como tudo começou é a estudiosa da história da alimentação Sandra Mian. Leia abaixo.

* Por Sandra Mian

Na França, como em inúmeros outros países católicos, há a tradição de se servir um doce especial na ocasião. Só que quando a gente vai ver como é a tradição, vê que na torta deve ser colocada uma prenda e uma fava seca. Ou só uma prenda. O mesmo acontece em Portugal com o o Bolo Rei e também em outras nações. Quem pega o pedaço da torta ou do bolo rei com a prenda é o rei do dia e quem pega a fava tem que fazer um bolo e oferecê-lo no ano seguintes às pessoas com quem estava na hora de cortar a torta ou o bolo.

Muita gente deve estar pensando que é um bolo ou torta pra celebrar a Epifania ou Festa dos Reis, quando os Reis Magos foram levar os presentes para Jesus. Essa é só parte da história, pois em inúmeras outras festas religiosas, a festa de reis têm sua origem nas tradições pagãs da Roma Antiga.

A Igreja Católica começou no Oriente Médio mas foi só quando Roma, o centro do mundo naquela época, se converteu ao catolicismo, que a religião ganhou realmente força. E algo que aconteceu lá – e que aconteceu no Brasil com o Candomblé e no México com as tradições Aztecas – foi a associação de cultos pagãos com as novas festas da Igreja Católica. Era mais fácil deixar as pessoas continuarem a fazer suas festas como haviam feito há centenas e centenas de anos … mas dando novo nome!

E assim nasceram tradições como as do Advento, do Natal, da Páscoa, de Santa Luzia, do Carnaval, da Epifania. Todas têm suas raízes em cultos muito anteriores ao catolicismo.

Na Roma Antiga havia uma festa durante o inverno chamada Saturnália, em homenagem ao deus Saturno, que deu nome ao planeta (e não o contrário!). Nessas festas se faziam uns bolos doces com uma fava enfiada no bolo. Evidentemente o bolo era sem fermento químico em pó, que esse foi inventado no século 19 e estamos falando da Roma de antes ou do tempo de Cristo). Quem encontrasse a fava era o REI DA SATURNALIA. Em geral faziam essas festas nas casas e tanto servos quanto escravos participavam.

Se um escravo ou servo pegasse a fava no seu pedaço era o REI DA FESTA POR UM DIA. E como “rei” ele ou ela tinham o direito de mandar em todos da família, fazer caçoada do dono ou patrão, etc. Mas era só por um dia.

Essas festas tinham como objetivo ser uma espécie de válvula de escape, aliviava as pressões sociais já que imaginem que não é fácil ser escravo o tempo todo. E assim os escravos esqueciam por um dia que eram escravos e os servos ficavam mais próximos dos patrões. Algo que fazemos sem perceber todos os anos no Brasil durante o Carnaval

Com o passar do tempo o povo esqueceu as Saturnálias, mas não esqueceu da festa! E a Igreja Católica a associou com o Dia de Reis ou Epifania. A Epifania é, às vezes, chamada de “pequeno Natal” porque em certos países é nesse dia que as crianças recebem presentes, como na Itália com a velhinha, a BEFANA. E agora a tradição passa a ser a de se encontrar uma prenda e uma fava no bolo.

Mas e os doces?

Por que um bolo ou algo doce como ponto alto das celebrações? Porque doces eram caros e raros, eram adoçados com mel e só muito mais tarde – durante a Idade Média – com açúcar. E açúcar era vendido a preço de ouro. Daí tudo o que era doce, desde a Antiguidade, passou a ser associado com datas especiais e com oferendas aos deuses.

Até o fim da Idade Média não se conhecia nem o fermento químico nem a técnica das claras batidas para fazer bolos. O que faziam eram agregar a uma massa de pão coisas que não eram consumidas com frequência, como ovos, manteiga, frutas secas, cascas cristalizadas, especiarias. Literalmente: PÃO DOCE. A isso chamavam de “cakes”, “gâteaux”, “bolos”. Por isso o pão doce português para o Dia de Reis é chamado de BOLO DE REIS.

Em alguns países a fava … bem … foi às favas e não é mais usada, só a prenda é colocada. Um dos países que mantem essa tradição é a França, com a GALETTE DES ROIS. Torta de Reis. Galette em francês é um tipo de torta baixinha, um disco. A galette des rois como a conhecemos hoje é bem mais recente, nos tempos antigos era algo bem mais simples como nos demais países, tipo um pão doce com a prenda. E a receita foi se sofisticando com o uso de um creme de amêndoas misturado com crème pâtissière, enclausurados em massa folhada.

Parabéns aos que mantém a tradição de fazer um BOLO REI ou GALETTE DES ROIS, seja ela com frangipane ou com creme de amêndoas ou seja lá como for. Se puderem colocar uma prenda, algo que não derreta (na França usam uns bonequinhos de cerâmica como se vê na foto acima), vai ser o máximo.

E se puderem, comprem ou façam em casa uma coroa de papelão pra coroar o rei da festa. Providenciem algo bem simples e baratinho como presente pro rei ou rainha. E só façam esse bolo ou essa torta uma vez por ano, na Epifania. Vocês vão ver como todos vão esperar ansiosamente, ano após ano, pelo dia de Reis.

Pois é, comida é isso … É tradição, é cultura, é arte, como mostra o quadro incrível chamado de O REI DA FAVA. Agora já sabem o porquê do nome! Saber a história do que comemos nos ajuda até a entender melhor obras de arte como esta.

Continuem as tradições da mesa, por favor. Elas nos conectam com nosso passado comum, com nossas raízes. Assim nos sentimos todos parte de uma mesma mesa, de uma mesma humanidade. E que sejamos todos reis, nem que seja só por um dia!

FELIZ DIA DE REIS!

* Sandra Mian é criadora do Grupo Comida pra Estar de Bem com a vida no Facebook, espaço onde fala de técnicas, receitas e curiosidades do universo gastronômico. O grupo é aberto! Participe!
https://www.facebook.com/groups/240127929523952/

1 Reply to "Doces para celebrar o dia de reis"

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    Heyttor Barsalini 7 de janeiro de 2022 (01:41)

    Adorei o artigo! Já tive a oportunidade de comer um Bolo de Reis, vindo da Espanha, que continha um reizinho de plástico, em seu interior. Conheci a tradição através dessa presente que recebi mas não sabia de toda a História por trás dela. Obrigado pelas dicas informações.

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