Mulheres no Universo do Café

Por Sandra Racy

Que o Brasil é referência mundial no cultivar do café acredito que não seja novidade, são muitos estudos, pesquisa e premiações que comprovam isso. O que talvez seja novidade, e ainda é pouco falado, é o papel da mulher neste universo tão apaixonante. Para homenagear a mulher neste 8 de março resolvemos então trazer aqui histórias comoventes e curiosas de desbravadoras deste mundo.

Atualmente, o país já possui muitas associações de mulheres do café, e a presença delas está de forma bem variada neste contexto. Comecemos então por falar da experiência de vida de dona Úrsula, como é conhecida a cafeicultora de 88 anos que está a frente da Fazenda Santo Antônio de Mococa, SP. Úrsula Bosenberg, nascida na Alemanha e filha de agricultores, teve sua vida mudada com a Segunda Guerra Mundial quando as terras da família foram expropriadas pelos soviéticos. Assim seu pai resolveu vir para o Brasil, em 1951, encontrar um irmão que aqui já estava e adquirir, em 1952, a fazenda que ela administra desde 1980.

Hoje, junto com os filhos, a cafeicultora produz café especial que além de servir o Brasil também é exportado para outros países. Dentro desse mundo de cultivar, de aromas e sabores, sempre fica uma questão para essas mulheres desbravadoras como dona Úrsula: afinal quem elas admiram? Quem são suas referências?

Lançamos então a pergunta: para quem a senhora faria um café? No que ela responde de pronto mostrando a influência alemã na sua vida e também o reconhecimento do lugar que mora e amizades que fez. “Faria um café para Eloisa Wadt, da Fazenda Àgua Limpa, de Mococa-SP, amiga que considera muito e também para Angela Merkel, ex chanceler da Alemanha.

O interessante é que podemos considerar que a atuação feminina muda radicalmente este universo tão povoado por homens a décadas. Força e delicadeza se juntam para mostrar ao mundo, sim ao mundo, o que é realidade no Brasil.

Aqui já podemos falar então de Valéria Vidigal, filha de pesquisador na área do cultivar e conhecida artista plástica do café. A afirmação se dá pelo fato ter sua obra totalmente voltada para o mundo do cafeicultor e suas várias nuances.

A artista plástica é mineira de Viçosa, reside em Vitória da Conquista, graduada pela Universidade Federal de Viçosa. Já há algum tempo é cafeicultora no Planalto da Conquista, produtora de cafés especiais e realizadora so Encontro Nacional do Café na Fazenda Vidigal. Foi artista premiada, campeã em 2023 do concurso nacional ” A Melhor História de um Agricultor” do Notícias Agrícolas. Além das obras, Valéria tem inúmeros trabalhos ilustrando livros científicos e de história do café, sendo os mais recentes o livro dos 50 anos do Sebrae Nacional “Café com Arte” e o livro 50 anos da ABIC.

Quando perguntado pra quem faria um café, ela prontamente respondeu: “Sempre fui fã das obras de Cândido Portinari, em 2017 conheci o filho dele, João Cândido Portinari , participei do Projeto Portinari que aconteceu na Casa dos Carneiros, fazenda do cantor e compositor Elomar. Depois realizamos exposições no Simpósio da Embrapa Café em Vitória – ES, e também na ASIC em Campinas – SP. O João fazendo a exposição das obras do pai e eu fazendo a exposição das minhas obras. Todas as duas falando de café!”

É certo que teríamos muitas histórias e vivências a serem contadas, mas não poderia deixar de falar sobre a cafeicultora Janaina Magalhaes, de Lambari, Minas Gerais, de 43 anos. Desde a infância lida com a realidade da maioria da mulheres do café que é a de pequenos produtores, o de agricultura familiar, pois casou-se com produtor e permanecendo nesse universo. Janaina participa e ajuda a tocar associações de mulheres do café, onde – segundo ela – aprendeu a se aprimorar, criar metas e também a estudar mais o cultivar.

Janaina tem várias habilidades como compor músicas, fazer lives, trabalha bem a comunicação para mostrar a realidade principalmente da mulher cafeicultora, é embaixadora do café , mas nada disso a impede que continue “colocando a mão na massa”.

Quando perguntado para quem faria um café, sem pensar muito ela responde: “Para Vanusa Nogueira, atual Diretora da OIC (Organização Internacional do Café, pois vencendo vários desafios, chegou aonde nenhuma outra mulher havia chegado, abrindo o caminho para mais mulheres acreditarem e se capacitarem para alcançar cargos de alta escala como esse, entre outros”.

Com esses exemplos podemos pensar, então, que mulher e café vão além do cultivar e que existe, há décadas, uma mudança significativa neste mundo cheio de cores, aromas, sabores e talentos.

Fotos: Arquivo pessoal

Sandra Racy, jornalista com atuação na área rural, professora universitária com mestrado em História e Memória, barista de café há 10 anos, com experiência em consultoria, cursos e eventos em fazendas e sítios de café, bem como gastronomia voltada para o café. Siga @sandra.barista no Instagram.